quarta-feira, 23 de março de 2016

Dois dedos sobre o Ano 2 de DD




Primeiro um disclaimer, mata-burro, ritual de proteção... vamos lá!

Adoro o Demolidor, é um dos personagens favoritos meu da Marvel. Adorei a primeira temporada da série da Netflix. E dessa segunda também.


PORÉM...


Cuidado com spoilers, da primeira e segunda temporada de Demolidor.


Demolidor da Netflix é a realização de um sonho! Uma adaptação de quadrinhos com uma pegada mais trabalhada, respeitosa e que acrescenta algo novo para a mitologia do personagem. O termo adaptação é encarado por este que vos fala escreve como um novo material cultural inspirado em uma fonte original. Não precisa (e nem deve ser) idêntico ao material original.

O conteúdo mais sério,a estética sombria que remete ao tom estilizado das HQs (note as luzes amareladas da cidade) e a porradaria honesta MUITO bem coreografada agradou o meu paladar nerd. Vou colocar aqui o meu gosto pessoal lado a lado com o juízo de valor, me perdoem desde já. Mas acho relevante essa mistura, afinal quem fica com a bunda no sofá precisa também ter suas preferências pessoais.

Dito isso, achei a primeira temporada excelente, com ritmo e desenvolvimento de trama muito bons. Arrisco dizer que é melhor material adaptado dos quadrinhos mainstream Matt Murdock ganhou vida com Charlie Cox - alguém diria o contrário? A trinca Matt Murdock/Foggy Nelson e Karen Page  são a força motriz da primeira temporada.




E o Kingpin? Sempre sonhei que o "Original G Tony Soprano" teria o porte, elegância e selvageria necessária para encarnar o vilão - um honesto representante da comunidade chubby tão rara no meio televisivo. Infelizmente, o destino nos pregou uma peça e levou James Gandolfini cedo demais.

Mas isso só elevou a responsabilidade Rei do Crime de Vincent D'Onofrio. O talento do ator fez questionar minha escolha original e ainda acrescentou uma camada de empatia com o vilão, sem diminuir o lado monstruoso (alguém consegue esquecer a cena da porta do carro?). Volto a falar do Kingpin adiante, mas já digo que a trama compacta da ascensão e queda do Rei do Crime é outro ponto forte da primeira temporada.

Finalmente chegou a segunda temporada, com a promessa de expansão do universo do Demolidor, com a inclusão de nomes importantes como o Justiceiro, Elektra e NINJAS!!!



Gostei muito dessa segunda temporada, porém isso não impede de questionar alguns pontos. Primeiro vamos aos elogios. Se Charlie Cox nos presenteou com um Matt Murdock crível, nessa segunda temporada somos presenteados com um Demolidor fantástico, com uma fantasia crível e muito bacana. Será que algum leitor das HQs do Demolidor não gostou do bastão de combate?

O Justiceiro também cumpriu seu papel. A construção do personagem foi a espinha dorsal dessa segunda temporada e posso apostar que é bem provável imaginar um spin-off do personagem. Torcia sempre para aparecer mais Justiceiro na trama, sozinho em sua loucura ou confrontando o Demolidor de forma física (bem física) e ideológica.

Com um personagem forte com uma trama que envolve todo o elenco de apoio, era necessário ter um plot paralelo? Acho que não. A história da Elektra é tão complexa quanto o do Justiceiro (ou até mais) o que resultou um enfraquecimento das duas tramas, prejudicando um pouco a etapa final da segunda temporada.



E a Elektra? Hmmmm, aqui é um ponto delicado, posso dizer que esse é o ponto fraco da segunda temporada?

Gostei das adaptações na origem da ninja, amarrando sua história com a Guerra Secreta (!) de Stick e a Mão (meu lado saudosista adoraria que o nome Tentáculo aparecesse na série, não foi dessa vez), mas a interpretação da atriz francesa Elodie Yung não conseguiu dar a real força da personagem.

Dividindo a atenção com um Justiceiro "coleira-solta", mais engajado com o cenário da primeira temporada e catalizando boas interações com Foggy e Karen, a trama da Elektra e da Mão foi diluída e apressada para a conclusão final.

A inclusão das adagas Sai de para-quedas é realmente sintomático, gratuito e deslocado. Fica parecendo uma caricatura, onde os traços devem estar presentes SÓ para criar familiaridade.

Outro enxerto esquisito é o retorno de Nobu. A Mão precisava de um final boss como se fosse uma fase de Double Dragon. Talvez se a trama começasse aqui nessa segunda temporada, ganhasse contorno na reunião dos Defensores (aposto que esse será o mote da reunião) com a morte da ninja no final desse arco ou num Ano III não aumentaria a empatia do espectador?



Achei tudo acelerado, uma pena. Para quem não conhece a trama do Tentáculo e Elektra, recomendo que vá atrás da história original nas HQs.

Tem pontos menores, facilmente ignorados. Karen Page está perdidaça, alguém dá um cachorrinho ou um namorado para ela. Dormir ao lado de bandido no hospital? E depois virar stalker do próprio assassino que matou o bandido que ela estava cuidando...isso não soa contraditório?

Mas nem tudo são pontos negativos. Temos a participação mais que especial do Rei, com um confronto explosivo com Matt Murdock. Não lembro de outro momento que um vilão se mostrou tão diretamente superior ao herói da história. Fiquei sem fôlego no sofá.

Já disse que gostei do subplot da guerra entre Stick/Casto/Virtuosos e a Mão? Mesmo com as linhas de atuação confusas e o final abrupto (onde foi parar todos aqueles ninjas no embate final?), a promessa de um desenvolvimento maior, envolvendo Punho de Ferro (quem sabe) e a própria reunião dos Defensores (aposto) promete ser mais desenvolvido. Vamos torcer.



 E depois disso?

Leia A Queda de Murdock e o loooongo run do Bendis (Demolidor revelado, só digo isso) para saber o que mais vem por aí.

Fecho como Rob Fleming/Rob Gordon (gosto do livro e do filme) e coloco aqui meus 5 Mais e 5 Menos.



Vladimir Putin indicariaA forma como a Karen Page conseguiu o emprego no jornal lembrou muito um episódio de Seinfeld, quando o George vai aparecendo num escritório, ninguém manda ele embora e ele vai se enraizando no dia-a-dia da firma.

Será uma Manobra Constanza?