terça-feira, 4 de outubro de 2016

Presente dos Deuses



Assim como em  "Os Deuses Devem Estar Loucos" (The Gods Must Be Crazy 1980), caiu na internet vários sketches de personagens do Quarto Mundo, desenhados por ninguém mais, ninguém menos do que o deus do traço autoral - Mike Mignola.

O Quarto Mundo é fruto de um divórcio amargo entre Jack "Rei" Kirby e a Marvel. Após uma longa série de desentendimentos com Stan Lee e a Casa das Ideias, Kirby é contratado pela DC Comics, acumulando as funções de editor, roteirista e desenhista.

Como se não bastasse se aliar ao exército inimigo, Kirby criou suas séries em cima das ruínas de Asgard e da mitologia desenvolvida na Marvel. Misturando esse desejo de vingança, muito do espírito New Age dos anos 70 e uma dose cavalar de talento, surgiu os Novos Deuses do Quarto Mundo.





Os Novos Deuses são alienígenas superpoderosos, com uma longa história bélica encerrada com um tratado de paz e uma troca de primogênitos. Uma trama épica, personagens marcantes que travam uma guerra fria em um campo de batalha que talvez você conheça: nosso planetinha azul, que vivia na mesma época o medo de um Armageddon Nuclear provocado por ideologias diferentes.

Incrivelmente familiar, um zeitgeist da Guerra Fria, de Eram os Deuses Astronautas, um ou dois psicotrópicos que estavam passando na atmosfera e do traço inspirado de Jack Kirby. Traço que vigora até hoje, mesmo passando por mãos talentosas que tentaram mexer em algo "sagrado" para os quadrinhos.

Incluo aqui as releituras de John Byrne (clássico respeitoso do Rei), Keith Giffen (com uma primeira passagem memorável na Saga das Trevas Eternas) e mais recentemente uma pretensiosa (e falha, mal aí) tentativa de revitalização em Crise Final de Grant Morrison e J. G. Jones.




Até o Mignola já trabalhou com os Novos Deuses em Odisséia Cósmica (leitura obrigatória).

Azzarello e Cliff Chiang também tentaram atualizar o conceito (pouco) e o visual (pouco também) no ótimo run da Mulher-Maravilha em Novos 52 mas não foi nada memorável ou mesmo marcante.


Todo esse preâmbulo hiperbólico (vai!) para chegar, enfim, aos desenhos de Mike Mignola para uma suposta animação com os personagens. Os desenhos são típicos do artista, vigorosos, cheios de referências e contrastes - afinal Mignola é o mestre do contraste chiaro oscuro.




Vale notar que o Pai Celestial tem traços dos povos antigos hebreus. Os habitantes de Nova Gênesis lembram um pouco egípicios ou sumerianos,bem leve. Já a milicia de Apokolips é angulada, misturando traços incas e pesadas peças industriais. 









Não sei o que a DC Entertainment está fazendo que ainda não soltou uma animação com esse

material. Talvez, tal como em Os Deuses Devem Estar Loucos, eles não sabem ainda o que tem nas mãos.


























Vladimir Putin indicaria: um pequeno arremate que quero deixar em cada post. O cafezinho no final daquela refeição.

Enquanto a DC nao realiza nossos sonhos, vou em busca de um case para deixar meu smartphone ainda mais parecido com o que ele é, de fato.