quarta-feira, 27 de maio de 2015

Saudades do tempo da mordaça


Outro dia, conversando com o Escapista Marlo discutíamos como anda difícil acompanhar o noticiário nerd sem tomar na cara um spoiler tamanho G(alactus). Na maioria dos casos esses fatos decorrem não por culpa dos redatores das notinhas, mas porque, dadas as somas vultosas que estão em jogo, cada vez mais a própria indústria do entretenimento assim o deseja, trabalhando para suplantar eventuais riscos e crises existenciais de última hora. 

Logo, foi-se o tempo em que o periodista ia à cata de furos bombásticos; "fotografias dificílimas" em ângulos ou fontes improváveis nos bastidores ou, se muito, pilotos "supostamente" vazados; ou, quem sabe, "informações desencontradas" sobre quadrinhos que só chegariam às bancas, com sorte, daqui a um ano, um ano e meio; e como esquecer os saudosos e minúsculos teasers em baixíssima resolução da era pré-You Tube, que ocupavam metade do HD, só eram vistos com alguma dignidade nos próprios cinemas e não entregavam toda a trama do filme?

Na realidade, hoje tudo é tão bombástico e explícito que na ânsia por garantir o prêmio na reta final, os próprios estúdios acabam sabotando a experiência do público-alvo¹ e, como consequência, viciando a audiência em spoilers. O que nos leva ao corajoso videocast do Omelete, reproduzido mais acima. Uma espécie de desabafo, sobretudo, do cozinheiro Érico Borgo que convenhamos, é a força motriz daquela revista eletrônica. 

Chega a ser infame dizer isso, mas o que viria bem a calhar numa hora dessas seria a boa e velha mordaça. E por falar em mordaça, estreou no último domingo (24/05) na HBO, Magnífica 70, uma fascinante série nacional que, ao longo de seus treze capítulos, abarcará uma narrativa sobre a Boca do Lixo, uma área extraoficial do centro de São Paulo que ficou conhecida como um polo da indústria cinematográfica brasileira. 


Me anima um programa com selo de qualidade HBO, se debruçando sobre uma temática tão obscura quanto a produção autoral da Boca nos anos 1970, conhecida por filmes de baixo orçamento com forte teor erótico em comédias, dramas, policiais e, claro, as famigeradas pornochanchadas. Foi nessa região que surgiram "subversivos" como Walter Hugo Khouri, responsável por uma ou outra pérola que você certamente já ouviu falar. 

¹ Após Vingadores: Era de Ultron, fiz um juramento solene comigo mesmo: nunca mais, nunca, nunca mais, voltarei a ver trailers do Marvel Studios ou congêneres. Um teaser com menos de um minuto, basta.

5 comentários:

doggma disse...

Lembro da época do 1º "Jurassic Park"... os dinos não foram mostrados até o dia da estreia, só pegadas, tremores e rugidos. Simplesmente alguns dos melhores efeitos especiais já criados, revolucionários pra época e mesmo assim, sigilo absoluto. Impensável nos dias de hoje.

Esse teaser do Aranha no WTC talvez tenha sido um dos últimos resquícios de genialidade promocional de Hollywood. Sempre lembro do teaser de T2, dirigido pelo Stan Winston - https://www.youtube.com/watch?v=J4PcWepywNM. São pequenas obras de arte que valorizavam ainda mais o ato principal.

Já os trailers de antigamente se limitavam a instigar e o faziam muito bem. Hoje em dia estão uma vergonha. Virou uma coisa submissa ao imediatismo/déficit de atenção das novas gerações e retro-alimentada pela indústria. Acho que fica mais barato assim.

Hoje é quase impossível usar a web e sair ileso da spoilerada. Outro dia fui ler uma notícia e já no header meteram um daqueles vídeos com play automático de porrada entre Cap e Ossos Cruzados no novo filme. A cena nem foi finalizada e já estava on line...

Vi o Barcinski elogiando pacas o Magnífica 70. HBO sozinha já é seal of approval e como fã da Boca, me sinto muito obrigado a conferir. São muitas "recordações".

Ah, Nicole Puzzi... e Zilda Mayo, Helena Ramos, Matilde Mastrangi, Aldine Müller...

Marlo de Sousa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marlo de Sousa disse...

Eu sequer sabia (bem, talvez soubesse, mas não lembrava) que haveria um Como Treinar Seu Dragão 2, quando me deparei com o trailer no YouTube. Nele, uma longa sequência com uma brincadeira entre Banguela e seu domador me maravilhou, mas, também, colocou meu pensamento em marcha: por que, diabos, mostrar num trailer uma sequência tão impactante, praticamente inteira? Esse é o tipo de coisa que deveria fazer a gente ficar extasiado no cinema, mas, esvaziada da novidade, vai perder seu encanto. Eu nem fui ver a animação no cinema, mas o efeito foi o esperado. A sequência (linda, diga-se) está lá e o filme não desponta, mas surpresas de verdade foram poucas.

O que me leva, agora, a estes trailers de Exterminador do Futuro: Gênesis. Foi a sério que o estúdio se esforçou tanto em estragar TODAS as surpresas do roteiro antes de o filme chegar às telas? É por pura modéstia que essa gente não cai de quatro pra relinchar.

Trailer de filme-evento, de agora em diante, só em doses homeopáticas. Lição aprendida.

Luwig Sá disse...

Dogg, e veja só, a degustação desses teasers acontecia, na esmagadora maioria das vezes, apenas nas salas de cinemas. Quer dizer, nesses tempos, os estúdios não só confiavam nos seus produtos como também apostavam cegamente em medalhões como Spielberg ou Cameron.

Hoje em dia, prefiro apenas um direto "boca a boca" de um sujeito confiável - "assiste, é do caralho!" - do que me arriscar por esses trailers entregões.

A propósito, viu isso aqui?

http://www.wired.com/2015/05/inside-ilm/

(Que capa!)

Marlo, então acho que minha sorte com esse T5 foi meu total desinteresse. Se muito vi, foi só aquele teaser da CCXP.

Mas vou mais longe, não é só com filme-evento! Por indicação de um amigo, assisti um bom suspense indie nesse fim de semana e logo depois, por curiosidade, assisti ao seu trailer. Encurtando a conversa, acertei em cheio ao ignorar o You Tube! Voltarei a falar disso durante a semana.

Abração.

doggma disse...

Vi sim, ontem ou anteontem. Inclusive tinha alguém comentando sobre o Michael Bay intrujão por ali, rs... Mas uma capaça mesmo. Não tem como não (ainda) admirar Hollywood.

Em tempo... qual é esse filme que você viu?