A edição mais recente de The Walking Dead, a #141, serviu para reforçar uma convicção que, no âmago, já vinha mantendo desde antes da centésima edição: a história acabou, mas Robert Kirkman parece desconhecer esse fato. Quer dizer, se TWD era, como proferiu o autor lá atrás, em Dias Passados (#1-6), uma narrativa sobre os anos de vida de Rick Grimes num cenário de apocalipse zumbi, sinto que agora falta ao roteirista a mesma desenvoltura e desapego com que outrora empunhava sua foice para limar óbices a continuidade criativa da série.
Para encurtar a conversa, Rick já cumpriu seu papel naquele universo e tal como incontáveis personagens queridos que ficaram para trás, já poderia - e deveria! - ter encontrado um destino similar, encerrando, por que não, essa série que, reitero, era sobre ele. Mas, claro, o ideal seria que fosse dado a Carl a chance de seguir de onde o pai dele parou. Logo, não houve momento mais oportuno de eliminar Rick dessa equação antivida do que aquele quando o mesmo impediu o filho de executar Negan.
Nesse mundo perfeito, Negan se ergueria sorrateiramente daquela maca e destroçaria a jugular de Rick com os próprios dentes; atônito e com o único olho prestes a libertar a última lágrima que derramaria até o fim de sua vida, Carl descarregaria o pente de sua pistola, crivando de balas aquele sorriso rubro e medonho do líder dos Salvadores. Fim!
Por outro lado, no mundo real, mesmo com o desgaste¹ do protagonista, de cliffhanger em cliffhanger, a série ainda instila minha curiosidade e estaria mentindo se dissesse que as novas dinâmicas, nascidas após o gap entre o desfecho de Guerra Total (#126) e os primórdios de Um Novo Começo (#127), são desinteressantes. Pelo contrário, o alvorecer da sociedade parece justo e Rick, finalmente no controle de suas emoções, parece sensato e verossímil, inclusive, mantendo Negan vivo e saudável em uma cela, a contragosto tanto da comunidade de Alexandria quanto da Colina e do Reino.
Aliás, é possível que até os próprios leitores não vejam com bons olhos a presente medida, o que justificaria, em tese, esse diálogo com Andrea, soando bastante como uma espécie de "autoanálise metalinguística" de Kirkman – ou, vá lá, como Deanna Monroe do seriado.
Meu problema, contudo, é que, uma discussão infrutífera como essa já deveria ter sido superada e sua manutenção a se perder de vista, visivelmente atravanca não só o ritmo do título quanto às demais frentes que ainda funcionam como, por exemplo, a dinâmica de Maggie como liderança na Colina, a ameaça dos Sussurradores ou os hormônios em combustão, autorizando Carl a cometer as primeiras tolices de um adolescente apaixonado.
¹ Outra constatação: parece que Kirkman também não sabe mais o que fazer com Michonne.
2 comentários:
Vou além e arriscar que, após o auge com o Governador, Kirkman sofreu uma espécie de bloqueio de autor reverso: o sujeito escreve páginas e páginas a fio sem chegar a lugar algum (para maiores referências, vide o personagem de Michael Douglas em "Garotos Incríveis", de 2000). E isso está ocorrendo há tempos.
Parei com a leitura lá atrás, na introdução do Negan e a coisa já estava num loop chatinho pra caramba. Essa coisa do choque pelo choque já não cola. Tem que vir com alguma ideia fora da caixa, pra variar.
Eventualmente lerei a coisa toda, por isso conferi só 70% do post. Mas já deu pra sacar que a situação seguirá imutável.
Acho que Kirkman está sofrendo do mesmo deslumbramento e distração que George R. R. Martin após o suce$$o de seus respectivos seriados, esquecendo-se que, a curto e médio prazo, suas obras só têm sustentação nos territórios de origem, isto é, na escrita.
Ainda assim, aproveitando que citei o Martin, Kirkman deveria ter com Rick o mesmo discernimento que o primeiro teve quando eliminou Ned, e promoveu uma miríade de tramas e subtramas que ainda hoje ecoam daquele fatídico dia no Septo de Baelor.
E, quem diria, com a gestão de Scott Gimple no programa, pela primeira vez desde que o piloto foi ao ar, o seriado parece contar com uma narrativa que sobrepuja o cânone.
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