De algum modo, terei que
seguir adiante sem a leitura de minhas páginas diárias de Perdido em Marte (The Martian, 2014). E que conste em ata: assumo, sob pena de ser atingido por uma saraivada
de pedras marcianas, que torci contra o sucesso da campanha de Mark Watney. Ah, se torci...
***
A narrativa imaginária de Andy Weir tem seu lugar num futuro aparentemente não muito distante no qual a terceira missão tripulada ao Planeta Vermelho, a Ares 3, já é
vista pela mídia e a opinião pública de modo tão corriqueira quanto sem o glamour das Apollos que sucederam àquela primeira alunagem do Power Trio original. Tudo isso
muda quando uma violenta tempestade intercepta a equipe de solo comandada por Melissa Lewis, e acaba abortando em Sol 6 (Dia 6) uma missão que originalmente estaria
planejada para durar até Sol 31.
O problema, contudo, foi que um dos astronautas da Ares 3 foi tragado pela tormenta, trespassado por uma antena de rádio e, segundo o
levantamento de seus dados biológicos pelo módulo de fuga (VAM), seu traje orbital (AEV) foi severamente comprometido.
Sem ter o que fazer, seus companheiros, Lewis, Martinez, Johansen, Beck e Vogel, se lançam no espaço a caminho da acoplagem na espaçonave Hermes para regressar a
Terra.
A conclusão deles não era outra senão: "Mark Watney estava morto".
"Será que estava mesmo?" |
"E agora?" |
"Já disse o quanto amo mapas? Não? Que fique registrado: amo mapas, e a saga de Watney começa logo com um." |
Mark Watney, até então o décimo sétimo astronauta a caminhar
por Marte, era um engenheiro mecânico e botânico de formação, mas um "McGyver" de vocação. Aos meus e os seus olhos, o status quo supra o levará, inexoravelmente, ao
destino que lhe foi negado ao sobreviver a aludida intempérie, contudo, estamos diante de um personagem espirituoso, que faz troça de sua própria situação e não se
prostra frente aos problemas que se apresentam a cada Sol.
Vou mais além, o texto de Andy Weir é contagiante, e mesmo imerso na armadilha definitiva, esse episódio de "Homem
Vs. Natureza Marciana" assume contornos, por que não, de autoajuda, transmitindo uma mensagem de superação bastante positiva ao seu leitor.
Você pode não ter se dado conta disso, mas "batatas marcianas" estão na última moda. |
A Manobra Rich Purnell. |
¹ Lembre-se, Watney foi trespassado por uma antena de rádio!
Se você não esteve em Marte nos últimos meses, o livro de Andy Weir está às vias de estrear sua versão fílmica - tá pertinho, 01 de outubro! - por Ridley Scott e Drew Goddard, tendo
como Matt Damon a honra de viver o simpático Mark Watney. Pelas prévias até o momento apresentadas, tudo indica que o live-action será bastante fiel ao original, e
conta com um elenco de reputação à altura dos coadjuvantes.
Se o filme der errado, é só culpa deles, pois a prosa - se me permitem o trocadilho - é coisa de outro mundo.
P.S. No começo do texto, lembra que disse que torci contra o sucesso da campanha de Watney? Pois bem, é impossível de fazê-lo quando, na realidade, carregas o desejo
de que a leitura de seus diários de bordo nunca cheguem ao fim. Mas é isso que sempre ocorre nos melhores livros.
Piada Interna: "Foda-se os anos 1970 e sua maldita Disco Music!".
Piada Interna: "Foda-se os anos 1970 e sua maldita Disco Music!".
6 comentários:
Já saíram as primeiras críticas do filme e são bem positivas. Mesmo assim, acho que são duas experiências completamente diferentes e necessárias. O livro é único. E eu não quero perder o Jason Bourne no espaço de jeito nenhum!
Algo como um Robinson Crusoé moderno. Botei aqui na lista de livros pra comprar um dia ainda nesse ano.
Esse parece dos bons. Só os excertos já dão uma ideia de que a prosa é irresistível. Vou correr atrás, valeu pela dica.
Sobre a adaptação, também estou de olho desde que surgiu nas notícias. Esperando também pela roupagem hollywoodiana de praxe, claro, e não há nada de errado nisso. O Reginaldo tem razão, são experiências singulares. Vide "Contato", livro e filme. Ambos fantásticos, ambos sui generis.
E aproveitando a deixa da piada interna/Marte/anos 1970, fica aí a dica do filme "Capricórnio 1"... o Mark Watney provavelmente se sentiria mais feliz com seus problemas.
Anotado, Dogg.
E acredite, ainda não assisti ao filme do Watney. E acredite², uma infestação de ratos tomou conta do único multiplex daqui de Westeros.
Não resisti e acabei assistindo antes de ler. Rapaz... que filmaço.
E finalmente entendi a "piada interna"!
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