quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

"Voltar e enfrentar o mal uma última vez"

Quem porventura já bebeu da água túrgida que se costuma ingerir em copinhos de papel num curso de Mestrado, certamente reconhece a sensação: “aquelas baforadas criogênicas® intermitentes que se instalam nas sete vértebras cervicais nos meses que antecedem o exame de qualificação”. É, foi dose, mas como dizia Timóteo, “combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” e meu trabalho foi qualificado. Caso esteja se perguntando sobre do que se trata minha pesquisa, de pronto lhe respondo: “meu objeto de estudo é o quadrinho Grandes Astros Superman, de Grant Morrison e Frank Quitely”.
 Ok, aí você me pergunta: “mas tu não irias trabalhar com o Spirit do Eisner?”. Sim, iria, mas a realidade de um pré-projeto completamente incipiente e a efetiva construção da dissertação são duas experiências entrópicas. Trocando em miúdos, raramente a ideia que tu tinhas no princípio sobrevive aos primeiros meses da pesquisa, sobretudo quando tu passas a imergir em discussões que praticamente gritam contigo para que examine uma obra a partir daquele viés. O barato inicial é entorpecedor, e te leva a se desafiar constantemente a adequar seu hobby ao academicismo, para que literatos vejam àquela arte do mesmo modo que a já enxergas há décadas. No final, o desejo de quem leva a cabo um trabalho dessa natureza é o de legitimar suas próprias neuras.

Sim, isso é bom, por um tempo, mas, inevitavelmente, chega-se a um ponto em que só queres “parir” o que, bem ou mal, tens gestado por cerca de dois anos. Desse modo, a hora da verdade está cada vez mais próxima – fevereiro próximo – e, acredite, arrumei um modo de insuflar um pouco mais de emoção nesses momentos de definição: em paralelo, na condição de concluinte, resolvi prestar a seleção de doutorado do meu programa pós-graduação. Foram quatro etapas excruciantes, mas no final deu tudo certo e consegui a aprovação para passar mais quatro anos “legitimando minhas próprias neuras”.
 Dessa vez, consegui vender uma proposta de tese sobre a Liga Extraordinária de Alan Moore e Kevin O'Neil. O resultado saiu no último dia 18 e foi o melhor presente de Natal que poderia desejar. Mas deixemos de lado um pouco minhas aventuras acadêmicas e vamos tentar correr atrás do prejuízo, mas não agora... agora sigo para um Réveillon regado a base de Millers e Marcas da Guerra

É isso, feliz 2016, Escapistas e Leitores Escapistas.

sábado, 26 de dezembro de 2015

Star Wars

Precisa falar mais alguma coisa?

...

Acho que sim, afinal a franquia foi revitalizada!

(Cuidado apenas com os spoilers suaves a 12 parsecs)

A Força ganhou uma nova força desde que a Disney assumiu a batuta. Isso gerou uma estratégia de mercado certeira, usando a marca em várias mídias - destaco aí a animação Rebels, uma sequencia justa do bom trabalho que foi feito em Clone Wars, e a dobradinha de sucesso Marvel/Star Wars nos quadrinhos, uma parceira antiga.

É impressionante como essa revitalização está sendo bem feita. Corrigindo os erros do passado - não sou tão crítico com os Episódios I,II e III, mas é fato que não agradou o grande público - que deve ser compreendido como um amálgama de velhos fanboys e novos garotos e garotas que irão se apaixonar pelo brilho do sabre de luz.

Mas finalmente chegou Star Wars - The Force Awakens. 

The Force Awakens é a Estrela da Morte dessa estratégia de revitalizar a franquia. OU uma outra analogia mais adequada, já que a Estrela da Morte não é sinônimo de empreendimento bem sucedido, ao contrário desse novo Star Wars que está despertando (trocadilho óbvio, desculpe). E The Force Awaken cumpriu esse papel de forma magnífica.

J. J. Abrams foi convocado para dirigir a sequencia. Se a trama pode ser criticada por conta da estrutura de eventos muito parecida (idêntica?) a Star Wars IV - Uma Nova Esperança, o uso adequado de efeitos em CGI, maquiagem, animatrônicos e cenários reais deu excelentes resultados. A tecnologia está presente, mas fica em segundo plano. O foco agora são os novos personagens.

Que escolha de casting perfeita! A trinca de novos atores é muito bem vinda, BB-8 é cativante, há toda uma nova leva de B-sides para serem explorados. Adam Driver está sendo questionado, mas acho perfeita a caracterização sith do personagem, poderoso, despreparado, emotivo e completamente instável. Mais Sith impossível!

A Velha Guarda também está presente, mas só como um saborzinho especial, uma essência de baunilha harmonizando com fan services estrategicamente posicionados. O Momentum é do novo elenco, mas a Millenium Falcon confirma que ainda é uma Diva Espacial dentro de um cargueiro ou voando baixo na atmosfera.

Elogiável também a postura da franquia, ao escolher um negro e uma mulher para conduzir essa nova trilogia. Até o Império repaginado como A Primeira Ordem está mais consciente dessa nova postura. Pena que a Capitã Phasma ainda não mostrou a que veio. Ela não poderia ser aquele Trooper que peita o Finn com uim bastão?

Poe Dameron (que nome fantástico!) tem seus momentos, mas quero ver mais. Muito mais. Será que vai rolar um novo triângulo amoroso? Será que a Disney está tão engajada aos novos tempos que esse triângulo amoroso pode ter os vértices invertidos???

Ainda entre minhas apostas gostaria MUITO que Finn também seja um usuário da Força, mesmo que seja um usuário MEDÍOCRE da Força. Por que todo mundo tem que ser o Chosen One?

Rey está apaixonante! Acho que há uma boa chance dela ser irmã do Kylo Ren (gostei muito da sua interpretação, já disse isso?). Meu palpite seria esse, mas para isso se comprovar muita coisa precisa ser explicada. Gostaria que ela não tivesse nenhum parentesco com o clã Skywalker, mas não me importo realmente com isso, os haters que me perdoem, mas estou curtindo a jornada.

Mais alguma coisa? Sim, três conselhos, pequeno Padawan:

- Primeiro: fuja dos excessos de análises, principalmente em podcasts. O cinema é descendente direto dos antigos shows de mágica, com a "magia" sendo emulada com efeitos de luz, fumaça e espelhos. Se você analisar cada faceta da trama, cada ponto de vista abordado ou não, o que vai sobrar é um mero truque, uma mentira. 

Eu ainda prefiro acreditar na mágia. Não vale a pena desmontar o espetáculo do filme só para vender a opinião abalizada do crítico, ou um espaço comercial para propaganda. Fique com a mágica do filme e dispense a piada, via de regra ela é ruim, preconceituosa e efêmera.

- Segundo: discuta com seus amigos esse Novo Despertar. Faça suas apostas, teorize, crie castelos de areia. Foi assim que Star Wars se tornou tudo o que é hoje em dia. Mais extrapolação e menos críticas rasteiras. O comments está aí para isso, participe. 

Mantenha a chama acesa até o próximo episódio. O que nos leva ao último conselho.

- Terceiro:  não tenha crises de abstinência. Explore os materiais de apoio (comecei a ler Marcas da Guerra), reveja a Trilogia Original e não critique tanto os Episódios I, II e III. Mude a ordem dos filmes ou procure uma das várias ordens para ver os filmes na web. Minha sugestão é que você veja a Trilogia Original e depois assista os Episódios I, II e III sem tanto rancor no coração.

Os novos quadrinhos da Marvel também estão em alto nível. Bons roteiros, exploração do cânone original e uma arte espetacular - Cassaday em bons momentos, Deodato caprichado e Stuart Immonen canalizando a Força no lápis. Até mesmo as histórias antigas (as 12 primeiras edições) publicadas pela série de capa preta da Planeta DeAgostini são uma boa pedida.

O Universo Expandido já é um pouco mais complicado. Vá por sua conta e risco. Você pode achar verdadeiras pérolas como o livro Kenobi.

Não é canônico. Mas é muito bom.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Do Plástico Tirar Queria #4: Univers Étendu

E essa coleção Star Wars da francesa Hachette Collections?


Certamente me faria ceder ao lado negro das lombadas.

Do lado terceiro-mundista da Força, ainda não peguei minhas HQs de Star Wars do coração...

Livro: Sombras do Império
Livro 39: Sombras do Império
A Estrela da Morte foi destruída e a batalha entre Darth Vader e Luke Skywalker em Bespin deixou ambos com feridas profundas, tanto físicas como emocionais. Apesar de a Aliança Rebelde ter frustrado os planos do Império, o Imperador já trabalha na construção de uma nova estação espacial, e para isso contará com a ajuda do ambicioso Xizor, líder da organização criminosa Sol Negro. Se essa ameação não fosse suficiente, a Aliança perdeu Han Solo, cujo corpo congelado em carbonita está nas mãos de Boba Fett. Esse volume reúne uma minissérie Sombras do Império, onde se explica o que ocorreu entre O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi
Livro: Herdeiro do Império 1
Livro 40: Herdeiro do Império 1
Passaram-se alguns anos desde que a Nova República venceu a batalha contra o Império, mas ainda restam Grandes Almirantes Imperiais que mantêm o poder graças à sua grande frota espacial. Para acabar com esse problema, Han Solo decide pedir ajuda a seus antigos companheiros contrabandistas. No entanto, seu novo líder, Talon Karrde, tem suas próprias ideias de como tirar vantagem dos acontecimentos. Enquanto isso, Luke Skywalker decide treinar a princesa Leia Organa Solo nos caminhos da Força, pois eles são os últimos Jedi da Galáxia. Quando o Mestre Jorus C’baoth surge por meio do Almirante Thrawn, Luke precisa decidir se sua sede por conhecimento supera sua desconfiança. Os dois volumes de Herdeiro do Império presentes nesta coleção reúnem a adaptação da famosa trilogia de romances de Timothy Zahn.

Livro: Herdeiro do Império 2
Livro 41: Herdeiro do Império 2
Mara Jade, que no passado foi a Mão do Imperador, é agora uma das contrabandistas de Talon Karrde. Para libertar seus novos aliados do mandado de prisão do Império, Mara se encontra com o Grande Almirante Thrawn, mas ele a trai, capturando Karrde, o único que conhece o paradeiro da poderosa frota Katana, que pode fazer a guerra pender a favor do Império. Mesmo odiando Luke Skywalker, o assassino de seu Mestre, Jade decide lhe pedir ajuda para salvar Talon. Para isso, terá de convencê-lo que seu novo Mestre Jedi, Joruus C’baoth, está a serviço de Thrawn.
Livro: Império Negro 1
Livro 42: Império Negro 1
Neste volume, tem início a saga Império Negro, que ocorre seis anos após a Batalha de Endor. Mesmo debilitado, o Império continua lutando pelo controle do pouco que resta de seu antigo esplendor. O pior dos confrontos está arrasando Coruscant, a antiga capital da República. Uma derradeira e terrível investida deixou o planeta à mercê das tropas Imperiais, e Luke Skywalker e Lando Calrissian ficaram presos no meio da batalha. Han Solo e a princesa Leia conseguem resgatá-los, mas Luke não está disposto a abandonar o planeta: sentindo uma estranha força negra o observando, ele está decidido a descobrir sua fonte.
Livro: Império Negro 2
Livro 43: Império Negro 2
O Imperador Palpatine ressuscitou e conseguiu atrair Luke Skywalker para o lado negro da Força. Mas o jovem Jedi resiste, unindo seus poderes aos de sua irmã Leia, e juntos destroem o Imperador... ou pelo menos assim acreditam. O Imperador ocupou o corpo de outro clone e com a ajuda incondicional de seu Executor Negro, Sedriss, um dos sete únicos Jedi Negros que lhe é absolutamente fiel, prepara em Byss um ataque definitivo para controlar a galáxia. Enquanto a Aliança planeja a invasão de Byss, Luke procura informações e o poder da antiga Ordem Jedi na emocionante conclusão da saga Império Negro.

A DeAgostini e sua priorização massiva das assinaturas fizeram as revistas evaporarem dos pontos de venda. E deixou todo o resto à mercê dos Mercenários Livres de Tatooine.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Pegou Diana pra Cristo


Há quase dez anos, logo ali, eu e alguns amigos jogávamos no monitor nossas impressões sobre a bizarra involução artística de Frank Miller. Diante de um dos assuntos mais comentados dessa semana no universo do quadrinhos - o pôster exclusivo de Miller para a CCXP 2015 - posso dizer que minha opinião segue a mesma, porém 2.0: é uma merda de desenho; e Miller não é bobo.

Como já é sabido, o pôster é uma arte promocional para o infame Dark Knight III – The Master Race. Um sneak peek, como se diz na Gringoland. Ainda que assessorado por Klaus Janson e Andy Kubert durante a série, Miller não aliviou no choque e concebeu uma Mulher-Maravilha ainda mais caótica visualmente do que em DK2. Isso se chama bait, na Gringoland.

Longe de querer "enxergar pelo em ovo", looonge mesmo, mas passo quase a comprar uma visão mais romântica e menos conservadora. Miller não desenha mais de uma forma comercial, mas impiedosamente vanguardista - mesmo em Terror Sagrado é notável essa estilização hermética. Então, para estabelecer alguma conexão, resta-lhe a crítica.

Claro que depender da abstração alheia é um caminho inglório. Só que o erro lieféldico no ombro esquerdo da Diana soa tão proposital que parece gritar o quanto os quadrinhos comerciais perderam o rumo nos últimos tempos.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Homem ao mar (de HQs)!


Ao contrário do que podem estar dizendo, eu estou vivo e gozando de boa saúde. Não esqueci que sou um Escapista, mas não tem havido tempo sequer para cuidar a contento de meu blog pessoal, o Catapop (falando nisso, tá rolando uma promoçãozinha por lá. Participe, vai que você se dá bem nessa, né?).

Daí que hoje eu estava pensando nessa tsunami quase diária de lançamentos de HQs, com coisas que eu quero e coisas que eu deveria querer, mas ainda não tomei consciência - exceto pelos esforços do colega Escapista Luwig, via WhatsApp. Fui criado com HQs de heróis e só aderi à Vertigo na era Panini; então, obras autorais fora destes eixos enfrentam certa resistência na minha lista de compras (embora isto esteja, aos poucos, mudando).

Cara, concordo com quem diz que esta é uma época maravilhosa para ser nerd, mas apenas se eu puder ser um nerd rico (e, hoje, eu não sou). Estou cortando um dobrado pra escolher o que comprar. Minha lista de mensais é uma pálida sombra do que já foi e eu me recuso a pagar por alguns encadernados o que é pedido por eles. O problema é que esperar por promoções pode resultar em fim dos estoques (e isso pra não falar da distribuição ocasionalmente errática).

Veja, por exemplo, a odisseia que foi minha compra do sexto volume de Preacher. Primeiro, a Panini anunciou o lançamento quase simultâneo de três volumes (4, 5 e 6), o que já complicou minha vida logo de saída. Seguindo minha política, esperei que eles entrassem em promoção e não demorei em adquirir o quarto e o quinto volumes, mas cadê que eu achava o sexto pra comprar? Entenda, não é que eu não encontrava barato pra comprar: eu, simplesmente, não encontrava o livro à venda!

De repente, pintou uma reposição de estoques, mas o preço cobrado era sempre o bruto, R$ 62. Quando eu já me preparava para baixar as armas, achando que era isso ou ficar com um buraco na coleção, eis que rolou uma queda de preços e eu paguei, já com frete, R$ 46 pelo meu exemplar. Agora, é buscar o terço final da saga de Jesse Custer.

Aí, eu fico vendo esse monte de coisa saindo e meu coração se aperta. Estou atrasado com minha coleção do Batman de Grant Morrison (parei no Descanse em Paz), não sei se ainda vou ter saco (ou $aco) pra correr atrás dos livros do Lanterna Verde de Geoff Johns ou do Capitão América de Ed Brubaker... E, não, não, NÃO, eu não vou dar R$ 158 no Superman de Grant Morrison! Tem que rolar desconto significativo pra TUDO, ou eu não compro NADA.

As coleções da Salvat (Marvel) e da Eaglemoss (DC) esbarram no custo elevado para coleções tão grandes, das quais muitos volumes já tiveram edições individuais mais vistosas lançadas antes, enquanto outros não são dignos de figurar em antologias desse tipo. Menos mal. Além do mais, me nego a ser chantageado por aquelas lombadas decoradas, formando painéis.

Para piorar, a Panini parece totalmente empenhada em satisfazer nossos sonhos mais molhados. Gotham DPGC, Homem-Animal de Grant Morrison, Promethea, a reimpressão Deluxe de Y - O Último Homem. Quando eu deixo de adquirir qualquer dessas coisas que desejo muito, um pedaço de minha alma nerd amolece, apodrece e cai. Porém, já entendi e me conformei: não dá pra ter tudo, por causa desse meu péssimo hábito de comer e pagar contas.

E olha que eu nem estou metendo na conta CDs, DVDs e blu-rays, por mais que isso me faça parecer um velho agarrado a antigas tecnologias. Da mesma forma que as HQs, esses itens só entram na minha estante com a devida depreciação. Bem que eu queria montar minha coleção de blu-rays dos filmes da Marvel, por exemplo, mas não com a Disney cobrando preço de lançamento por filmes de 2 ou 3 anos atrás, coisa que gerou um organizado boicote que eu assinei.

Apesar do queixume, não é como se eu não estivesse comprando nada, ok? Dificilmente eu pararei por completo com as HQs, visto que elas ainda estão entre minhas formas preferidas de lazer. Tô fazendo minhas compras e lendo o que posso, nem sempre com o devido foco, mas o que quase sempre me sobra no fim do dia de trabalho não é tempo - é cansaço.

O cansaço é tanto, que eu estou perdendo o foco agora mesmo. Com tudo que eu disse aí acima, o que eu quero saber é se vocês concordam que o mercado corre os risco de sobrecarga e subsequente estagnação, devido a essa "primavera dos encadernados" atualmente vivida por aqui, visto que já tem leitor dizendo que não compra mais mix pra esperar pelos livros. Cá pra nós, eu acho que o fiasco em uma ponta dessa corda tem muita chance de provocar colapso na outra.

Pretendo voltar em breve, com um novo "Tirando do Plástico". Só não me pergunte exatamente quando. Abraço!

sábado, 12 de setembro de 2015

ICH

Lembro nitidamente da minha fascinação ao descobrir pela primeira vez o mutante Noturno. Ou ficar estarrecido com a destruição de uma cidade inteira com mísseis atômicos, deixando apenas dois sobreviventes: Vanth Dreadstar e Syzygy Darlock. Ficava embasbacado com o Esquadrão Atari, Camelot 3000 e Novos Titãs dentro de uma mesma revista.

Hoje eu tenho uma relação de amor e ódio com as editoras mainstream de quadrinhos. Culpa de decisões editoriais erradas, altos e baixos criativos, redesigns mercenários e desgaste das histórias. Pode ser tudo isso e algo mais, talvez mereça uma análise mais aprofundada. 

Mas eu quero focar o outro ângulo, quando eu pego uma revista sem nenhuma expectativa e, embora eu não seja transportado para o passado (remoto) que eu lia Superaventuras Marvel ou Superamigos em pé na banca, eu tenho a mesma sensação de fascinação com a arte e a história. 

É isso que ainda faz eu ler e guardar livros e revistas em papel, difícil de armazenar, conservar e transportar, mas tão fácil de se envolver e se encantar como uma criança de novo. E quando essa sensação retorna, tenho o dever de compartilhar com o maior número de pessoas, espalhar a palavra.

ICH, o novo trabalho da dupla argentina  Luciano Saracino (autor de Jim Morrison: o Rei Lagarto e A Agenda dos Monstros) e a arte totalmente pintada de Ariel Olivetti (Cable, Conan, Namor) é o tipo de material que recupera minha paixão por quadrinhos. Acredito que grande parte disso seja por causa da motivação da dupla em trabalhar juntos (Saracino e Olivetti são grandes amigos) e da dedicação em trabalhar com um projeto pessoal.

A história de ICH (significa Máscara no dialeto dos povos Abya Yala o NOSSO continente Sul Americano) é ambientado no século 16, na época dos conquistadores espanhóis colonizando a América do Sul. Esse momento histórico, com duas culturas totalmente diferentes, permite aos autores brincarem com heroísmo, magia, desconhecido, glória e derrota. Segundo Olivetti, ICH dá a possibilidade de começar uma história épica de super-heróis aqui na América do Sul.


Sem síndrome de Vira-Lata, sem Street Fighter com Saci e Mula sem Cabeça. Uma trama muito bacana e envolvente que dá início a uma grande história - já estão previstas pelo menos mais duas sequencias.

Mais uma vez, assim como em Lazarus e Fatale, os "extras" roubam a cena. Dessa vez, alguns skecths das máscaras/criaturas (com seus nomes originais) e uma descrição mezzo realista mezzo fantástico dos bastidores da história dão um gostinho todo especial para a graphic novel, um sabor de Realismo Fantástico que é 100% sul-americano.

Ich tem formato brochura 17 x 24 cm, capa cartão colorida e miolo colorido, 96 páginas e preço de R$ 35,00 e foi lançado essa semana na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro. A Argentina é o país homenageado desta edição.

Para mais informações sobre o lançamento, acesse o site da Jambô Editora.

Vale a pena visitar a bem humorada fanpage de ICH.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Queria Tirar do Plástico #3: A Estante dos Sonhos

Por trás dessa estante dos sonhos, existe uma beleza quase que, digamos, doentia.
 Captou a pegadinha? Não? Pois bem, não achas estranho existir coleções omnibus inteiras padronizadas, que compilam na íntegra, por exemplo, a Mulher-Maravilha de George Pérez, o Aquaman de Peter David, os Novos Titãs de Marv Wolfman ou de Dan Jurgens, o Superman Pós-Crise, o Azrael de Dennis O'Neil, a trajetória completa de Wally "Flash" West, o Hawkworld de Timothy Truman, o Esquadrão Suicida de John Ostrander ou o subestimado Xeque-Mate de Greg Rucka? 

É isso mesmo que estás pensando: elas não existem. Bom, pelo menos, não no sentido formal da coisa, isto é, com tiragens limitadas em livrarias e comic shops. Os HCs em questão fazem parte do acervo de Kirk Kiefer, a mente por trás do Comic Binding Pro, um site que se propõe a transformar acervos dos "comics" norte-americanos em compilações robustas com layouts similares as apetitosas versões Omnibus da DC Comics.
 O processo de desconstrução e construção deles me lembra remotamente algumas sandices de outrora, só que num nível tão profissional que parece até mesmo ofuscar a própria editoração oficial. Conta a favor do Binding Pro o fato de que os publishers da indústria lá levam realmente a sério questões básicas como o formato e o papel utilizados, de modo que, ao longo da vida dos periódicos, percebe-se que existe uma espécie de uniformização extraoficial de toda a cadeia produtiva de quadrinhos. 

Desse modo, um título dos anos 1980 não destoa quando colocado lado a lado com um dos anos 2000. Uma realidade, por sinal, bastante distante da que se vê no Brasil entre formatinhos pisa britescos ou formatos americanos para todos os gostos e bolsos.
  O mind blowing é tamanho que sugiro que tome um Diazepam antes voltar a olhar para a própria estante. 

P.S. Esses HCs acima são apenas a ponta do iceberg¹. Siga agora por sua conta e risco.

¹ Ver o Arqueiro Verde de Mike Grell desse jeito é como uma flechada no coração. 

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O Marciano Simpático

De algum modo, terei que seguir adiante sem a leitura de minhas páginas diárias de Perdido em Marte (The Martian, 2014). E que conste em ata: assumo, sob pena de ser atingido por uma saraivada de pedras marcianas, que torci contra o sucesso da campanha de Mark Watney. Ah, se torci...

***

A narrativa imaginária de Andy Weir tem seu lugar num futuro aparentemente não muito distante no qual a terceira missão tripulada ao Planeta Vermelho, a Ares 3, já é vista pela mídia e a opinião pública de modo tão corriqueira quanto sem o glamour das Apollos que sucederam àquela primeira alunagem do Power Trio original. Tudo isso muda quando uma violenta tempestade intercepta a equipe de solo comandada por Melissa Lewis, e acaba abortando em Sol 6 (Dia 6) uma missão que originalmente estaria planejada para durar até Sol 31

O problema, contudo, foi que um dos astronautas da Ares 3 foi tragado pela tormenta, trespassado por uma antena de rádio e, segundo o levantamento de seus dados biológicos pelo módulo de fuga (VAM), seu traje orbital (AEV) foi severamente comprometido. Sem ter o que fazer, seus companheiros, Lewis, Martinez, Johansen, Beck e Vogel, se lançam no espaço a caminho da acoplagem na espaçonave Hermes para regressar a Terra. 

A conclusão deles não era outra senão: "Mark Watney estava morto".

"Será que estava mesmo?"
"E agora?"
"Já disse o quanto amo mapas? Não? Que fique registrado: amo mapas, e a saga de Watney começa logo com um."
Mark Watney, até então o décimo sétimo astronauta a caminhar por Marte, era um engenheiro mecânico e botânico de formação, mas um "McGyver" de vocação. Aos meus e os seus olhos, o status quo supra o levará, inexoravelmente, ao destino que lhe foi negado ao sobreviver a aludida intempérie, contudo, estamos diante de um personagem espirituoso, que faz troça de sua própria situação e não se prostra frente aos problemas que se apresentam a cada Sol

Vou mais além, o texto de Andy Weir é contagiante, e mesmo imerso na armadilha definitiva, esse episódio de "Homem Vs. Natureza Marciana" assume contornos, por que não, de autoajuda, transmitindo uma mensagem de superação bastante positiva ao seu leitor.

Você pode não ter se dado conta disso, mas "batatas marcianas" estão na última moda.
Por outro lado, é surpreendente a engenhosidade do escritor, que pinta um inusitado quadro de verossimilhança científica ao lastrear os elementos sci-fi do livro com conhecimentos reais de botânica, física, engenharia, programação e química. Quer dizer, na ótica Weiriana, não basta simplesmente descrever uma sequência em que Watney, por exemplo, está tentando estender o seu suprimento de água para poder viabilizar uma plantação de batatas. Não, isso seria razoavelmente fácil. Ao narrar a cena em questão, o autor vai ao encontro da ciência, em meio a reações fisico-químicas, cálculos, projeções, que passam a interagir como ingredientes perfeitos de suspense nos capítulos que se seguem.

A Manobra Rich Purnell.
 Paralelo a jornada solitária daquele "Marciano", agravada momentaneamente pela incomunicabilidade¹ com a Terra e os amigos na Hermes, temos geeks da Nasa como Mindy Park e Rich Purnell que, geridos por Venkat Kapoor, Mitch Henderson e o burocrata Teddy Sanders, descobrem que Watney está vivo e passam a trabalhar em alternativas de como restabelecer a comunicação para que assim seja possível lhe transmitir instruções de como adaptar certos gadjets, alertá-lo sobre as condições climáticas de Marte e, sobretudo, traçar um plano de resgate surrealmente otimista que só poderia se concretizar daqui há quatro anos pela Missão Ares 4

¹ Lembre-se, Watney foi trespassado por uma antena de rádio! 


Se você não esteve em Marte nos últimos meses, o livro de Andy Weir está às vias de estrear sua versão fílmica - tá pertinho, 01 de outubro! - por Ridley Scott e Drew Goddard, tendo como Matt Damon a honra de viver o simpático Mark Watney. Pelas prévias até o momento apresentadas, tudo indica que o live-action será bastante fiel ao original, e conta com um elenco de reputação à altura dos coadjuvantes.
 Se o filme der errado, é só culpa deles, pois a prosa - se me permitem o trocadilho - é coisa de outro mundo. 

P.S. No começo do texto, lembra que disse que torci contra o sucesso da campanha de Watney? Pois bem, é impossível de fazê-lo quando, na realidade, carregas o desejo de que a leitura de seus diários de bordo nunca cheguem ao fim. Mas é isso que sempre ocorre nos melhores livros

Piada Interna: "Foda-se os anos 1970 e sua maldita Disco Music!".