sexta-feira, 29 de maio de 2015

O Capitão América da Abril Comics

Voltando um pouco a fita... março de 1964. Marvel congelando e descongelando o Capitão América para integrá-lo aos Vingadores (em The Avengers #4) e justificar o fato dele não ter envelhecido desde a 2ª Guerra. Único inconveniente: todas as aventuras solo do Cap publicadas desde o fim da Guerra, ainda pela Timely Comics, até serem descontinuadas em meados dos anos 50, pela Atlas Comics.

Parte desse rebu cronológico foi sendo reparado em prestações a perder de vista, com retcons de personagens obscuros se passando pelo Capitão América para "manter a chama viva" durante o seu gap de 20 anos. Tudo pelas mãos de vários autores em diferentes épocas e cenários e sem conexão aparente entre as premissas. Uma solução que é a cara da Marvel, esse ferro-velho das ideias.

Lendo o belo texto do Luwig sobre os almanaques da Abril e a citação ao Sérgio "Figa" & o Clã das Tesouras Voadoras, me veio à memória um caso até sui generis dentro do mesmo embróglio. Trata-se de uma pérola publicada em Capitão América #77 (outubro de 1985).

Uma enorme e reluzente pérola trash.


Na tentativa - repito, tentativa - de sintetizar todo esse rolo envolvendo os falsos Capitães, os editores da Abril, sempre alegres e criativos, extraíram pedaços de HQs escritas por Stan LeeRoy ThomasRoger Stern e Steve Englehart e costuraram tudo como se fosse uma única história original. Sem hesitação, sem medo, sem preocupação com a defasagem cronológica de uma página para outra.

O resultado foi um verdadeiro Monstro de Frankenstein chamado "A Saga dos 4 Capitães América".

Behold!

Só Uatu mesmo pra explicar

Da mesma forma que o meu camarada velho de guerra, quando molequinho eu também tinha alguma ciência sobre os cortes nos formatinhos. Um pouco pela continuidade muitas vezes bipolar das narrativas, outro pouco graças a conhecidos que sabiam inglês e colecionavam os tão inace$$íveis comics.

Mas eu nem ligava. Tudo era sublimado pela diversão.

Contudo, mesmo meu rasteiro nível de exigência da época não deixou de notar a peculiaridade daquele gibi. Desconfio que tenha sido por causa dos desenhos, variando sutilmente entre Jack KirbyJohn ByrneFrank Robbins e John Buscema...


O turno do Frank Robbins começou logo após o do Rei e ele saiu no preju...

O mix de retcons antigos com retcons mais recentes e histórias clássicas completavam o feeling de chinelagem editorial. Mas os criadores da Abril ficaram tão orgulhosos de sua criatura que, não satisfeitos, a republicaram em Marvel Especial #10 (dezembro/1990), edição comemorativa dos 50 anos do Capitão.

Durante a faxina cada vez mais sazonal da minha modesta coleção, me surpreendi ao descobrir que tenho ambas. Acho que sou um fã.


De diferenças, a ME trazia de bônus 3 histórias clássicas do Cap na íntegra - e originais!! -, além de consertar algumas daquelas velhas esculhambadas de impressão dos formatinhos...

 

...e finalmente oferecer uma introdução explicando a natureza do Monstro. Quem é, o que quer, de onde veio, pra onde vai.


Marvel Especial era dedicada a republicar arcos e sagas queridas do público, como uma espécie de "hall of fame" da época. Mas nunca teve a honra de lançar um material tão... tão... Abril.

Claro que o fato de ter sido a última edição da revista foi mero acaso...

3 comentários:

Luwig Sá disse...

Sinal dos tempos, meu velho amigo. Em julho próximo fará 13 anos que a Abril publicou seus últimos formatinhos¹, mais especificamente aquela tentativa de retorno as origens após a malfadada linha Premium, um réquiem chamado "Planeta DC":

http://www.guiadosquadrinhos.com/titulos/planeta%20dc

¹ Quer dizer, sem contar a linha Disney e as recentes HQs DC Animated.

E cá estamos nós, saudosos, brindando simbolicamente nossas Sul Americanas em homenagem àquele bastardo inglório do Figa. E que belo título era esse "Almanaque do Capitão América", que só muito recentemente percebi - graças ao Guia dos Quadrinhos - que se tratava daquela mesma longeva revista de 214 edições.

Ah, e não poderia esquecer do bom e velho Mike Zeck. Que artista, hã? Ele bem que merecia uma compilação exclusiva com suas 30 edições do Cap entre 1978-1986. Que, a propósito, tem lá seus pequenos clássicos como aquele arco com o Deathlok nos números #87-90 (Captain America #286-289):

http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/capitao-america-n-87/ca00301/5239

Se ele soube parar na hora certa, não faço ideia, mas se foi, respeito demais sua decisão. Mas sinto falta de seu traço e, analisando bem, acho que o Goran Parlov também:

http://www.mikezeck.com/images/home/20140424punPrint.jpg

Por último, só um lembrete: atenção para não passar batido por esse fascículo da Salvat (http://www.acecomics.co.uk/EBAY/tps/mmhm25punisher.jpg). Coisa fina, hein?

Maravilha de texto!

doggma disse...

Desencavou esses formatinhos derradeiros... Só lembrava das capas do AH! me instigando a adquirir algumas. E falando na linha DC Animated, será que eu colocar aqueles gibis meia-horinha no vapor fica mais fácil de folhear?

Mick Zeck é um dos grandes na categoria "de pouco a nunca lembrados". Desenhava muito. Não só foi proficiente no Cap (e que arco esse do Deathlok), mas também nesse run do Justiceiro com o Steven Grant. Memorável.

Só acho preocupante a degradação meteórica do trabalho da Salvat, como você já deve estar ciente. Nesse novo TP do Cap (logo o do Byrne) encostaram no DEFCON 1.

Ps: outro Mike subestimado e desaparecido em combate é o Baron. Escreveu grandes histórias do "Caveirão" nos anos 80...

Luiz Gustavo de Sá disse...

Dogg, fica não... ehehe

Sim, eu vi essa do Cap. Tenebroso! Acho que eles grafariam: "Tenebozo!"

Claro que lembro¹ do Baron! Sou Caveira, ora!

¹ http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/justiceiro-lei-da-gravidade/jug0301/6940