domingo, 23 de agosto de 2015

DROKK!!


E a revista Juiz Dredd Megazine foi oficialmente cancelada pela Mythos Editora. Segundo informações do editor-assistente e tradutor Pedro Bouça em entrevista ao excelente site 2000 AD Brasil, a edição #24 (a próxima) será a última do título.

Ainda ontem eu rasgava elogios ao público da revista, mas parece que a coisa não era bem assim. Entre outros motivos citados, o principal e categórico foi mesmo as baixas vendas. Na entrevista, Bouça ainda traça comentários bastante pertinentes sobre o estado atual do mercado de quadrinhos no Brasil, além da evidente defasagem do formato mix - mesmo que um excelente, como é/foi o caso da Megazine. Ele também expôs o planejamento a curto prazo para o personagem no Brasil.

* * *

Foi um bom run. Não tão longevo quanto parecia e merecia, infelizmente. Sobre a suposta "culpa" do público nisso tudo, acho que é uma insinuação no mínimo equivocada. É função da editora a divulgação de seus produtos e a busca por boas parcerias, assim como é da sua competência a necessidade de se adaptar à realidade econômica do cenário, seja qual for. Simples assim.

Vou eu convencer alguém a investir 80 reais num encadernado em preto e branco? Já anda difícil convencer a mim mesmo...

sábado, 22 de agosto de 2015

A Espada Selvagem da Mythos

A 1ª ESC a gente nunca esquece...

As melhores informações às vezes vêm por acaso. Um fã do Conan enviou um e-mail à Mythos Editora perguntando por que ainda não haviam planos para o relançamento em capa dura da clássica série A Espada Selvagem de Conan. A exemplo da esclarecedora entrevista com Levi Trindade, a resposta do editor Fernando Bertacchini também foi bastante franca e com detalhes generosos sobre os meandros e as mecânicas internas do ramo.

blog Caixa de Gibis transcreveu o texto em primeira mão. Segue a reprodução abaixo. Vale a conferida.

"Imagino que você faça parte de grupos de fãs do Conan em redes sociais, pois recebemos outros e-mails bem parecidos com o seu. Eu estava ocupado demais com Groo versus Conan, mas agora que esse título está na gráfica, posso responder seu e-mail adequadamente. E, claro, pode retransmitir a resposta aos grupos.

O país onde mais se republicam quadrinhos do Conan produzidos pela Marvel é a Espanha. Ao longo dos anos, inúmeras coletâneas foram republicadas. Mas se você pegar exemplares de uma coleção publicada há 15 anos e comparar com a reedição mais recente, vai notar que o texto é praticamente o mesmo. Ou seja, graças ao capricho na tradução, mantendo o texto em “norma culta” que lhe confere um aspecto atemporal, toda vez que querem lançar uma nova coleção, eles podem aproveitar o mesmo texto e, hoje em dia, até a mesma diagramação e letreramento. Ou seja, a produção dos relançamentos é muito rápida. Aqui, as traduções feitas no passado eram (na minha opinião) desleixadas, com um enorme volume de texto suprimido por causa do maldito formatinho. Mas até mesmo na Espada Selvagem (onde não havia a desculpa de “falta de espaço nos balões pra comportar todo o texto original”) também era praxe a mutilação de 30 a 40% de texto, simplesmente porque havia poucos letristas capacitados, e os prazos deles eram sempre os mais apertados. Por causa dessa cadeia de produção que visava muito mais rapidez do que qualidade, não podemos hoje em dia reaproveitar as traduções. Cheguei a planejar em 2013 uma coleção em capa dura, com edições trimestrais de 144 a 160 páginas, na qual republicaríamos a Savage Sword of Conan com as histórias em ordem cronológica. Mas o tempo de produção desses encadernados, só pelo fato de sermos obrigados a retraduzir tudo, já comprometia o projeto. Traduções no nível que fazemos levam três vezes mais tempo. Mesmo que fosse uma coleção trimestral, ela praticamente me deixaria ocupado fazendo somente isso, e neste mercado editorial restrito, a editora não pode ter um editor trabalhando em uma única publicação. Além disso, com a queda de vendas provocada pela crise econômica, e os custos gráficos cada vez mais altos, pois são cotados em dólar, o projeto da SSC em capa dura foi engavetado.

Ou seja, se existissem traduções completas e caprichadas desde a época da Abril, hoje poderíamos comprá-las (como se faz há décadas na Espanha), atualizar a revisão e enviar imediatamente para algum letrista. Com isso, seria mais rápido produzir reedições dignas da qualidade original da Savage Sword, sem o risco de que um único título “amarrasse” a produção e acorrentasse o editor somente a ele. Pra citar um exemplo, quando as histórias de Conan the Barbarian existentes em preto e branco terminaram (após a morte da Bêlit), adotamos aquela cronologia da Marvel como base da sequência da revista, não apenas pra poder usar histórias da SSC em ordem cronológica, mas também pra seguir o exemplo da Espanha, deixando como legado ao menos um lote de aventuras com texto que pode ser republicado na íntegra tanto hoje quanto daqui a 20 anos. Graças a esse cuidado, ficamos com um “estoquezinho” que nos permitiu produzir o álbum gigante Conan: O Libertador, que foi tão elogiado. E ainda temos nas mesmas condições as histórias desde a conquista do trono até o casamento com a Zenobia. Essa fase seria o segundo volume do “Conan gigante”, que estava planejado para o final de 2014, mas aí a economia do país entrou em crise e a cotação do dólar disparou… isso gerou não apenas custos gráficos astronômicos, mas também reajustes repentinos em contratos antigos, negociados em dólar com pagamentos parcelados (faturas com prazos de 30 e 60 dias triplicaram seu preço). Mesmo com o dólar tendo regressado a um patamar menos desastroso durante um curto período, o estrago da cotação 3,50 já tinha sido enorme, e agora esse pico ainda foi ultrapassado! Enfim, quando chegaram os primeiros orçamentos gráficos para o segundo “Conan gigante”, a direção da Mythos desistiu, pois o preço que seríamos obrigados a cobrar fatalmente afundaria as chances de venda.

Os mesmos fatores afetariam uma coleção de luxo da Savage Sword. Podemos afirmar que ela não venderia como água, pois seu custo de licenciamento, produção e gráfica resultariam em um preço de capa que pouquíssimos leitores poderiam pagar. Infelizmente, por fatores que não vou comentar aqui, o licenciamento de SSC custa bem mais caro, por exemplo, do que o licenciamento de qualquer título novo produzido da Dark Horse. Publicações inéditas sempre vendem mais que qualquer material antigo, mas SSC tem um custo bem superior. Se a cotação do dólar voltasse a um nível razoável, no mínimo uns R$2,50, e se ESTABILIZASSE nesse nível, poderíamos cogitar tanto o segundo volume gigante quanto a coleção trimestral da SSC em ordem cronológica. Porém, como essa possibilidade parece cada vez mais distante no atual cenário econômico, nosso único projeto com aventuras clássicas do Conan é a coleção The Chronicles of Conan, da Dark Horse. No mínimo os quatro volumes iniciais, onde foram republicadas todas as aventuras com arte de Barry Windsor-Smith, têm chance de ganhar uma versão brasileira, pois, como acabei de explicar, infelizmente o custo do material licenciado pela Dark Horse é muito mais justo do que o licenciamento de Savage Sword. E antes que você questione, “Mas a Dark Horse não publica SSC?”, já explico que sim, eles republicam, mas nesse caso, não são os licenciantes do título, ou seja, também eles são obrigados a licenciar ao custo bem alto, mas não podem revender. Somente as aventuras clássicas com as novas cores produzidas e bancada pela própria Dark Horse podem ser revendidas por ela. E mesmo assim, até essa permissão pode ser revogada pela Conan Properties sem prévio aviso.

Um abraço.

Fernando Bertacchini

Editor"

terça-feira, 11 de agosto de 2015

O Illuminati contra-ataca


Não tive o menor fair play com novo filme do Quarteto Fantástico, mas se tivesse noção do tamanho do desastre nem teria me dado ao trabalho. Desde A Ilha do Mr. Moreau que não ouço falar de uma produção tão caótica.

O filme, que custou US$ 120 mi, já é um fracasso fantástico e sem chance de recuperação (ou será salvo pelas vendas do blu-ray? - rá). O diretor Josh Trank tratou de tirar o dele da reta antes mesmo da estreia - mas já era tarde demais para evitar um revés profissional que será difícílimo de reverter. Até os "nossos parceiros" do Collider saíram em sua defesa, expondo os outros 500 da história.

Seja como for, o mundo lá fora engoliu o Quarteto vivo e não teve a menor piedade. Nem o RT, nem o IMDb, muito menos o MC. E é justamente esse o motivo de eu não estar comemorando como achei que iria.

Claro que todos nós - ou quase todos nós - queremos ver o Quarteto na Marvel Studios. Todos queremos ver um team-up do Quarteto com os Vingadores mais o Surfista Prateado e quem mais aparecer defendendo a Terra de uma invasão Skrull. Ou de Galactus. Mas isso vale uma injustiça?

Seria o novo Quarteto Fantástico realmente tão ruim quanto o ridículo Mulher-Gato, que recebeu notas similares? Seria pior que Elektra, que se saiu um pouco melhor nos ratings?

Por que tenho a incômoda sensação de existiu ali um lobby silencioso e conivente para enterrar esse filme?

Tirando do Plástico #6

"A apatia é grande e a crise é geral... todo mundo trabalha e se fode o ano inteiro. Chega no Carnaval, é globeleza... globeleza... globeleza... globeleza..."

Já dizia João Francisco Benedan, Philosophiæ Doctor em República Federativa do Brasil.

A coisa não está bonita e o futuro menos ainda, então vamos nos divertindo enquanto ainda faz parte do orçamento. Mas já reparou como certas programações deram uma engasgada? Tem Grodds e Banes de resina até na quitanda da esquina, as CHM não deram mais notícias e já era pra eu estar folheando meu exemplar do Homem-Máquina de Barry Windsor-Smith a esta altura, mas vamos lá...


Sempre fico impressionado com o universo que Bill Willingham construiu com Fábulas ao longo dos anos. Mesmo facilitado por um porto seguro onde isso era possível, não é qualquer um que consegue segurar o interesse do público e da crítica durante tanto tempo. Um exemplo rasteiro do sucesso da marca são essas duas compras recentes, franquias da série principal.

Não sei bem o que esperar de Cinderela (você precisava ver a cara do jornaleiro), mas escrita por Chris Roberson, de iZombie, as expectativas são ótimas. Numa rápida folheada, gostei no ato da arte cartunizada de Shawn McManus, na escola Timm/Cooke, mas com uma tracejada bem própria. E as ilustrações da capista Chrissie Zullo são muito bonitas. Até aquele jornaleiro tem que admitir.

* * *

E por falar em capa, a de As Mais Belas Fábulas: O Reino Oculto deixou neguinho por aí com o queixo no chão. Deviam ter olhado então a contracapaAH!... Uma pena que este segundo volume da série já não traz os inestimáveis serviços do Phil Jimenez. Pelo menos, a saideira ficou a cargo da fera Barry Kitson.


Os 80 Anos do Pato Donald e A Saga do Tio Patinhas são as aquisições do ano pra mim. Quando foi que a Editora Abril aprendeu a confeccionar encadernados tão bons? O acabamento é de primeira, os detalhes são sensacionais e ajustaram até a diagramação para evitar os pontos cegos provocados pela lombada. Isso sem falar nos extras cheios de infos bacanas e material raro.

É assim que se trata uma obra clássica.

Considerando a superprodução, os preços foram bastante camaradas e chegam a ser embaraçosos para a concorrência e seus TPBs "deluxe".


É curioso ler por aí análises mezzo hesitantes mezzo confusas dos volumes de Stormwatch pela Panini. Tudo por causa da presença de Warren Ellis num gibi tipicamente anos 90. Sem drama... Ellis ainda estava no meio do caminho, mas já experimentava ali mecânicas narrativas que influenciariam toda a década seguinte - algumas ele mesmo reutilizaria anos depois em Planetary e, mais nitidamente, Frequência Global. Contudo, com toda aquela carga conceitual em estágio embrionário e assumindo um dos supergrupos-símbolo daquela safra, a verdade é que seu run inicial brigava desesperadamente pra sair da zona de rebaixamento. E o desenhista-volante não ajudava.

Sendo sincero, não acho o traço de Tom Raney o tempo todo ruim. Mas é ruim nas expressões (pobre Jenny Sparks), na constante falta de cenários e nas incompreensíveis cenas de luta. E parece que vivia com a estamina na reserva: as sequências-tributo em que emula Joe Shuster, Will Eisner, Ray Moore, Jack Kirby, John Byrne e Dave Gibbons quase elevam sua moral, mas patinam feiamente conforme o avançar das páginas. O saldo geral é de mediano pra quase-Liefeld. Mas a bundinha da Fahrenheit é ótima.

No volume três, felizmente, temos a estreia do goleador Bryan Hitch no time, ao lado de uns coadjuvantes indistinguíveis. Ainda lapidando o estilo que o consagraria em Os Supremos, ele já estava num nível estratosfericamente superior a toda a bagaceira noventista cometida com o nanquim. Foi um bálsamo para os olhos.

Estão previstos mais 2 volumes do título, o que fecharia esse ciclo e abriria caminho para os aguardados TPs do Authority. Resta saber se a Panini vai operar um milagre e publicar a derradeira missão do Stormwatch - um crossover dos WildC.A.T.s com os Aliens (que são da Dark Horse) onde vários integrantes do grupo comem capim pela raiz.


Tão constrangedor quanto tentar puxar uma salva de palmas sem sucesso é dizer em determinadas rodinhas que curte o trabalho do Reginald Hudlin nas HQs. Agora finalmente adquiri em formato físico o meu melhor argumento: a graphic da Salvat com o arco Quem É o Pantera Negra?, de Hudlin e John Romita Jr. A reabilitação do herói é tão apaixonada, complexa e ainda tão atual que parece que foi ontem que li pela 1ª vez. E fora os momentos já eternizados no cânone quadrinhístico, ainda rendeu uma ótima mini (des)animada onde o traço do Romitinha é assimilado com um resultado muito bacana.

Após essa estratégia de defesa, geralmente costumo puxar uma salva de palmas like a pro.

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O trabalho de Mark Waid e Mike Wieringo em Quarteto Fantástico: Imaginautas no final de 2002 pode não ser uma unanimidade entre os leitores, mas foi de suma importância na trajetória dos jurássicos personagens, então bastante sucateados por roteiristas e desenhistas temporários. Observações editoriais à parte, sempre gostei do run da dupla e ainda tenho as edições de O Incrível Hulk onde esse arco foi publicado.

Nem imagino se a Panini dará continuidade, mas independente disso não poderia faltar à chamada do chefe escapista.


Cheguei a comentar aqui como foi legal ler iZombie: Morri pro Mundo ouvindo música. Dessa vez nem as Irmãs da Piedade deram jeito. iZombie: vcVampiro ainda entrega uma leitura bastante agradável, mas é basicamente um episódio "monstro da semana", onde a letargia toma conta e nada de muito efetivo ocorre com os personagens. Pra piorar, o plot circular gera coincidências em excesso e as ideias doidas do arco anterior - como a engenhosa explicação para a natureza das almas - foram praticamente deixadas em stand by. Claro que Michael Allred e Chris Roberson ainda têm crédito na casa e algumas deixas são promissoras, então continuarei me esgueirando atrás dessa adorável zumbizinha ("every breath you take...") aguardando por histórias - e capas - melhores.

* * *

Após uma campanha de mkt digital nível Eles Vivem, é certeza que Coffin Hill - Crimes e Bruxaria vol. 1: Floresta da Noite atraiu uma boa leva de leitores buscando uma HQ nova e original. Eu estava nesse bolo. A trama escrita pela especialista em fantasia dark Caitlin Kittredge com desenhos do argentino Inaki Miranda (Juiz DreddFábulas) gira em torno da ex-policial e bruxa Eve Coffin, às voltas com a herança maldita de sua família e uma entidade Lovecraft/Stephenkinguiana que assombra uma floresta de sua cidade natal.

Apesar do início promissor, Floresta da Noite late, late, late... e nunca morde. É visível o esforço de Kittredge em estabelecer uma "mitologia Coffin", mas o custo acaba sendo uma história engessada. Há um ou outro momento com feeling genuíno de HQ de horror... e quem dera se eles predominassem... mas o resultado final se aproxima mais de uma aventura com mutantes (dos X-Men) do que um conto com bruxas e demônios.

É preferível uma reprise do filme Jovens Bruxas.


E eis que aportaram os dois volumes de Vingadores: Eternamente. Fica a pergunta: até quando a Panini vai comer a poeira da Salvat com relação à mitológica fase que os Vingadores atravessaram entre o fim e o início dos milênios?

E o que dizer dessa saga épica de Kurt Busiek & Carlos Pacheco que já não foi dito antes de forma clara e objetiva?

Chupa DC?


Comentei aqui outro dia que tenho o pé atrás com gibis montados a partir de excertos de várias histórias, mas Juiz Dredd Megazine Especial: Democracia foi uma sacada genial da Mythos Editora. A edição compila uma extensa subtrama política desenvolvida nas histórias do nobre juiz na revista 2000AD - por extensa, leia-se de 1986 até 1991 (!) - e que, de outro modo, dificilmente veria a luz do dia na íntegra por estas bandas. O foco da narrativa é um grupo pró-democracia que luta contra o sistema político fascista de Mega-City Um. Dredd nunca foi tão vilânico. Ele quase não aciona sua Legisladora, mas usa armas bem mais poderosas: campanhas de desinformação e descrédito, chantagens, sabotagens e intimidações.

Vou te dizer... é uma história revoltante, mas sobretudo realista e atual, particularmente nesse momento conturbado que o Brasil atravessa. Um verdadeiro manual prático de como um estado faz manobra de massa - sendo que a opção contrária também não é lá muito animadora. Sem falar no estado de idiocracia em que vive imerso o cidadão médio. Chega a ser deprimente. A conclusão inevitável é que, entre a cruz e o cassetete, estamos todos ferrados.

Ah, e John Burns, o desenhista do "arco" final, arrebenta.

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Ainda não abri o capa dura com a saga Juiz Dredd: Origens, mas sua fama a precede. E não é pra menos: a dupla clássica John Wagner/Carlos Ezquerra coloca Dredd em plena Terra Maldita numa missão envolvendo sua origem e também a de todos os juízes de Mega-City. Essa é considerada uma das histórias mais importantes da vasta cronologia do Dirty Dredd.

O TP também traz um conto especial com traço de Kev Walker.


Minhas últimas - e talvez derradeiras - aquisições de DVDs não primam pela afinidade.

Albergue Espanhol (L'Auberge Espagnole, 2002) teve uma simbologia extra: foi quase de graça num bota-fora de uma heróica locadora que fechou as portas recentemente. Era a última "locadora de bairro" funcionando perto de casa. O fim de uma era e o início de outra, tal qual acontece na cativante história do filme, onde um grupo de estudantes de diferentes nacionalidades dividem um apê e acabam levando uma bagagem pra vida inteira. Albergue Espanhol teve duas continuações igualmente memoráveis (Bonecas Russas e O Enigma Chinês) e é a única trilogia do gênero que acho comparável à saga de Jesse, Céline & Linklater. Mas a primeira vez, sabe como é...

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Hit de locadora no final dos anos 90, era difícil achar uma cópia de Drive (1997) dando sopa nas prateleiras. O filme traz um mix das produções-porrada de Hong Kong com elementos típicos de gibis. O então jovem e promissor Mark Dacascos faz um super-assassino com força e agilidade ampliadas graças a um dispositivo implantado por uma evil companhia. Um dia ele resolve parar e tenta vender o dispositivo para uma organização rival. A evil companhia, lógico, não curte a ideia e bota uma caçambada de assassinos em seu encalço, incluindo um agente 2.0 aprimorado.

O roteiro é curto e grosso, mas não se furta em disparar referências pop a toda hora. E a química entre Dacascos e o comediante Kadeem Hardison funciona bem, mas quem rouba a cena mesmo é a saudosa Brittany Murphy. Quem só a conhecia pelas comédias românticas açucaradas que protagonizaria anos depois, vai tomar um susto. A menina estava um pequeno dínamo aqui, algo entre uma Tarantino-pinup-girl-with-a-machine-gun e uma certa palhacinha mortal que adora um pudinzinho. Diversão garantida.

O que poucos sabiam é que a versão lançada no Brasil foi a americana, com trilha sonora tecno e um corte de quase 20 minutos (!!). Só agora lançaram por aqui a versão do diretor, integral e com todas as costelas, mandíbulas e fêmures estraçalhados a que temos direito. O DVD também traz um generoso making of, entrevistas e outros extras muito legais - tudo com legendas em português.

Um excelente trabalho da NBO Editora. 15 conto na Americanas.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

109 Hit Combos!

O Abe Riesman fez a pergunta; o Érico Assis a traduziu junto com a resposta: 

Abe"- Tá, mas por que 109 páginas só pra uma briga?

Geoff Darrow: "- Eu sei lá. Eu queria ver. Acho que fica engraçado. Queria ver onde eu chegava antes de bater o tédio. Sei lá. Se eu tiver que explicar, aí acho que o propósito se perde.

Não "só pra uma briga", são 109 páginas com o Shaolin Cowboy eliminando manadas de zumbis utilizando uma vara de bambu com uma motosserra em cada extremidade: 

Posso até ver o nosso Escapista Dogg se refestelando com The Shaolin Cowboy: Shemp Buffet.

domingo, 2 de agosto de 2015

Ora, direis, lembrar de outrora!


Você percebe que está ficando velho quando seus ídolos começam a morrer de causas naturais. Ou quando os filmes preferidos de sua infância e adolescência começam a ganhar remakes (que a gente quase sempre odeia). Ou quando já existe toda uma geração que nunca os conheceu.

Eu percebo que estou ficando velho quando lembro que "já era gente" quando ainda existia um país chamado Alemanha Oriental (até 1989) e outro chamado Tchecoslováquia (até 1992). Ou quando lembro que conheci The Smiths em um ano (1986) só para vê-los se separarem no ano seguinte. Ou quando a vergonha me atinge em cheio, ao lembrar que, na primeira vez que fui ao cinema sozinho, deixei de ver O Retorno de Jedi no cinema, preferindo ver O Cristal Encantado (1983).

O cinema e a música são especialmente felizes em ajudar-nos a localizar certos eventos em nossas vidas. A ideia deste post é pegar um lançamento importante de até três décadas atrás (já que eu tenho pouco mais de quatro delas de vida) e, em seguida, puxar da memória algum momento importante de minha história naquele ano. Se os colegas Escapistas não estiverem dispostos a escrever todo um post sobre o assunto, sintam-se livres para deixar seu depoimento em forma de comentário.


HÁ 10 ANOS...


...cinco anos depois que a Fox acertou o tom no primeiro filme dos X-Men e três antes do primeiro dos Marvel Studios (Homem de Ferro), a Warner deu ao mundo o filme do Batman que os fãs queriam (ou, pelo menos, a coisa mais próxima disso feita até então). Batman Begins ajudou a transformar o nome de Christopher Nolan numa das grifes mais poderosas de Hollywood e o de Christian Bale em sinônimo de Batman (e de murmúrios incompreensíveis).

E eu com isso? Em 2005, depois de nove anos, eu estava deixando Goiás e voltando a viver na Bahia.


HÁ 20 ANOS...


...os filmes policiais nunca mais seriam os mesmos, depois de Seven. A escola estilística inaugurada pelo diretor David Fincher, porém, não teria significado nada, se não houvesse uma história extremamente bem contada no roteiro de Andrew Kevin Walker e interpretada com fúria em três escalas: contida na atuação de Morgan Freeman, irrefreável no surpreendente Brad Pitt e assustadoramente impassível no desempenho gélido de... Bem, 20 anos se passaram, mas vamos poupar aqueles que podem não ter visto o filme ainda.

E eu com isso? Em 1995, eu estava ouvindo axé music pra caralho. Me julguem.


HÁ 30 ANOS...

...estreava uma aula de cinema de aventura, produzida por Steven Spielberg e dirigida por Robert Zemeckis. O imaginário pop ganhou o arquétipo do jovem americano gente fina (Marty McFly/Michael J. Fox), um cientista louco (Emmet "Doc" Brown/Christopher Lloyd) e seu bordão memorável ("Great Scott!") e a mais legal das máquinas do tempo: um DeLorean que deixava um rastro de fogo. Ao lado de Os Caçadores da Arca Perdida (1981) e Curtindo a Vida Adoidado (1983), De Volta Para o Futuro formava a trindade definitiva da Sessão da Tarde como ela deveria ser.

E eu com isso? Em 1985, ano do primeiro Rock in Rio, meu amor pelo rock estava nascendo - e era lindo!