Após alguns anos de indefinição, o famigerado projeto de levar para as telinhas o romance Deuses Americanos, de Neil Gaiman, finalmente ganhou luz verde e agora se encontra em pré-produção. A opção de entregar a adaptação às mãos do incompreendido e mal-agourado showrunner Bryan Fuller foi corajosa e até inspirada, haja vista que dificilmente tu vês por aí direções de arte com tanta identidade, arroubos sombrios e momentos de surrealismo puro quanto à de produtos como Pushing Daisies ou Hannibal. Algo, portanto, completamente fora da curva e totalmente cabível a uma das mais belas e complexas crias do Senhor do Senhor dos Sonhos.
Se Deuses Americanos vingar – e a torcida é grande! –, é quase certo que um punhado de outras obras de Gaiman deverão ganharm também formatos live-action. Curiosamente, um termômetro que, aparentemente, deve ter servido para que produtores-executivos avaliassem esse potencial praticamente inexplorado da prosa do autor foi a radionovela de Good Omens, veiculada pela BBC Radio em abril último.
Good Omens (ou Belas Maldições) foi escrito a quatro mãos por Neil Gaiman e Terry Pratchett (Discworld). Publicado originalmente em 1990, só foi lançado no Brasil oito anos mais tarde pela Bertrand Brasil. Para efeitos cronológicos, pode-se dizer que foi o primeiro romance de Gaiman e narra com um humor negro ímpar a história de Adam Young, o Anticristo em pessoa, um garoto de onze anos de idade que deveria engatilhar o Apocalipse, mas como fora trocado na maternidade e criado por uma típica família britânica, tudo que ele deseja é se divertir com sua “gangue”.
Paralelo a sina de Adam, somos apresentados a Arizaphale, o arcanjo do Portão Leste do Jardim do Éden e Crowley, a serpente que instilou Eva a morder aquela maldita maçã. Dois amigos improváveis que gostam de viver entre os humanos e têm exatos três dias para sabotar esse suposto cataclismo bíblico.
Na contramão, querendo acelerá-lo, temos os quatro Cavaleiros do Apocalipse: Guerra é uma linda mulher que alimenta discórdia onde quer que passe; Fome é um CEO do ramo alimentício que inventou uma comida industrializada que nem engorda e tão pouco alimenta; Morte é um senhor de poucas palavras; e Poluição, que tomou o lugar de Peste após ela se aposentar em 1929 com a invenção da Penicilina.
Belas Maldições é daqueles livros que você se esquece de respirar, e tal como Deuses Americanos sempre foi alvo de especulações quanto a adaptações para outras mídias.Com a participação ativa de Gaiman nos bastidores, a radionovela da BBC pulou toda a burocracia de Hollywood e acabou entregando um produto¹ que sobrepujou as limitações de um audiobook, estimulando a imaginação com boas atuações e efeitos sonoros que capturam a atenção dos ouvintes. À primeira vista parece démodé, mas o que a rádio inglesa fez foi levar os populares podcasts para outro nível².
¹ Que por acaso é também uma bela homenagem post mortem.
² Um nível muito acima de uma radiodifusão dominada por forrós, pagodes, sertanejos...
¹ Que por acaso é também uma bela homenagem post mortem.
² Um nível muito acima de uma radiodifusão dominada por forrós, pagodes, sertanejos...
Para promover a adaptação, a BBC Radio encomendou galerias de arte com passagens e personagens de Belas Maldições. Todas são intrigantes, mas as composições de Sean Phillips (Criminal) – reproduzidas ao longo do texto – saltam aos olhos.
4 comentários:
Pushing Daisies era demais... e das mais subestimadas por aí. Hermético e até experimental, mas sem deixar de lado o sabor pop. Refinado demais, provavelmente. É bom saber que é o Fuller comandando "Deuses". Pelo menos a qualidade criativa e conceitual está a um passo da garantia - ao contrário de um certo Pregador...
Pela sua descrição e pela arte do Philips, "Good Omens" parece mesmo fascinante. Não dá pra evitar de imaginar essa carga lisérgica e surrealista indo para as telas pelas mãos do Tarsem Singh ("A Cela") ou do Alex Proyas ("Cidade das Sombras") ou do meu favorito pra missão, Vincent Ward ("Amor Além da Vida").
Dogg, o visual que Fuller insufla nas suas produções da TV só pode ser comparado com o que Tim Burton faz no cinema. E, imagino, com menos recursos e material humano que o cineasta em questão.
Quanto a Pushing, lembra do Lee Pace? O sujeito que vivia o Ned e, recentemente, o Ronan em Guardiões? Pois bem, venho acompanhando o seriado da AMC, Halt and Catch Fire¹, e, quem diria, ele tem se mostrado um monstro na pele de Joe MacMillan, um espécime de futurista² como Tony Stark, mas sem todo o papo furado marvetinho, nos primórdios da era digital nos anos 1980.
¹ Considero o fino da MPB essa intro: https://www.youtube.com/watch?v=yD_kCKiSkoI
² http://s17.postimg.org/l99cyryof/stark_futurista.jpg
O Preacher do Seth Rogen parece lá uma má ideia, mas já vi por aí alguns pequenos gestos dele de amor ao texto do Ennis que fazem por merecer ao menos nosso benefício da dúvida.
Só por ter citado esses três nomes vou agora mesmo ali na cozinha pegar a garrafa de hidromel que ganhei de um primo, e dedicar três shots a Singh, Proyas e Ward. Sou fã confesso desses três, inclusive...
https://twitter.com/pulseluwig/status/621776444738416640
Que combo, hein?
Ei Luwig, chegou minha camiseta da TeeFury com o Gaiman flamesaber. Coisa linda!
Reginaldo, vi¹ agora... lhe invejo, amigo! Boa aquisição!
¹ http://www.teefury.com/media/catalog/product/cache/1/product_model_image/9df78eab33525d08d6e5fb8d27136e95/t/-/t-mco-a-good-omen.png
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