Hoje meu novo estilo de vida será posto à prova. Quer dizer, com uma única exceção, tive a façanha de passar ao largo de praticamente toda a superexposição de prévias e informações “privilegiadas” deflagradas pela produção de O Exterminador do Futuro: Gênesis e, aos quatro ventos, dispersadas na mídia especializada. Confesso que não foi fácil desdenhar e filtrar tudo que foi ofertado de bandeja nos últimos meses sobre a película de Alan Taylor, mas o Dia “T" chegou e estamos aí com a experiência intracinema intacta, cabendo apenas a mim – e não aos outros! – o “julgamento final” do que fora construído.
Por outro lado, uma declaração de James Cameron me chamou a atenção: Genisys is 'official' third film in saga.
Entendo que todos nós podemos e devemos expressar o que sentimos ao ler um livro ou quadrinho, assistir a um filme, peça de teatro ou seriado, mas o status de Cameron esbarra justamente naquilo que vinha dizendo há poucos dias: "autores-criadores que, por uma quantia multibilionária (ou não), abrem mão dos direitos imateriais sobre uma obra intelectual, transferindo sua propriedade intelectual para conglomerados do entretenimento, acabam criando um cenário inusitado; um criador que não mais influi nos rumos das criaturas".
O exemplo de Lucas é cabível ao de Cameron, o que me leva a estranhar o fato de que, com ou sem o aval desse último, os “apócrifos” Rebelião das Máquinas e Salvação certamente devem ter lhe rendido alguns dividendos. Continuações que, embora não sejam unanimidades perante os fãs, ganharam seus lugares naquela história e, inclusive, com a participação direta ou indireta do T-800 – por mais que, hoje, ele a renegue.
Assim, James Cameron validar ou reprovar algo que criou e depois vendeu, em tese, é como se Riddley Scott elogiasse ou esculachasse o trabalho do primeiro em Aliens: O Resgate. Ou como se Brian Azzarello fosse dar à mínima para o que Alan Moore¹ pensa a respeito de seus prelúdios de Comediante ou Rorschach.
Vamos lá, sei que é um argumento deveras legalista, mas acredito piamente que um pedaço de papel – assinado por pessoas maiores de idade, conhecedoras de seus direitos ou, caso contrário, assistidas por profissionais que os conhecem – confere ao seu autor-criador a legitimidade para fazer o que bem entende com seus personagens, inclusive, desistir deles, passando a tocha para quem ainda deseja mantê-la acesa.
Por fim, só para fins de registro: IMHO, Cameron foi deselegante. IMHO, Salvação foi um filmaço!
¹ Logo um senhor que construiu sua bibliografia à base de releituras de personagens pré-existentes?
5 comentários:
É o que eu ia falar, gostei de Terminator Salvation. Acho que grande parte dos CLÁSSICOS dos 80´s e 90´s não sobreviveriam ao crivo matador dos críticos de plantão. É muita gente analisando cada faceta, destruindo a ilusão, a magia.
Vou assistir esse filme empolgadaço! Ainda mais que o Swarza de cabelo branco lembra muito o Cable!
Reginaldo, não tem faceta, ilusão ou magia que salve T5 de tanta presunção e preguiça criativa, mas que o Swarza tá sim a cara do Cable, isso tá! Boa sacada!
Fala, Luwig!
Meu velho, esse assunto dos "autores-criadores abrindo mãos dos direitos sobre suas obras intelectuais" vai longe. Geralmente são pessoas que dividem sua faceta artística, hã, "visionária" com um tino igualmente nato para o business em torno de suas obras. São teimosos, exigentes e perfeccionistas tanto quanto são talentosos homens de negócios. Difícil não fazer um paralelo com os dois grandes do Vale do Silício. Por isso mesmo é um pouco chocante para nós, meros mortais, vermos essas figuras se dissociando de suas obras com tal desenvoltura. Eles já atingiram suas metas ali. Pelo ângulo deles, retornar àquilo seria um retrocesso.
Cameron desconsiderando o ótimo T3 e o bom T4 nada mais é que ele dando uma força a um amigo próximo e ex-governador da California. Nada pessoal.
Já desisti de algum projeto mais hardcore vindo de Cameron (que seria a adaptação do mangá Battle Angel Alita). Ele deve mesmo encerrar a carreira naquela lua de Pandora, brincando de desenvolver novas tecnologias revolucionárias enquanto bate mais uma vez seu recorde bilionário. Não é nada romântico, mas é a opção eficiente. Ele e Lucas são CEOs de si mesmos.
"Cameron desconsiderando o ótimo T3 e o bom T4 nada mais é que ele dando uma força a um amigo próximo e ex-governador da California. Nada pessoal."
Dogg, se algum dia a vida calhar de providenciar uma reviravolta no estilo Alan Taylor e daqui há 15 anos meu filho me convidar para uma sessão reprise de T5; e se, após o filme, eu proferir naquele continuum que "Genisys" passara a ser "ótimo/bom"... Pode ter certeza que alguém voltou no tempo e exterminou os realizadores de T5.
Talvez Cameron, por sempre ter estado a frente de seu tempo, já esteja vivendo nessa realidade. Torço por isso, na verdade.
Com todo respeito a Azzarello de quem sou fã por outras obras, mas o preludio a Watchmen é no máximo fraco, pra não falar das outras historias tediosas.
Com respeito a Alan Moore, ninguem (com exceção do Cavaleiro das trevas de Miller) teve tanto impacto nas hqs, o que foi responsavel na epoca por mudar a cara delas e o modo como eram vistas, como ele, os outros vieram depois e muitos deles, apesar de bons, ainda precisam comer muito arros com feijão para se igualar a ele.
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