sexta-feira, 3 de julho de 2015

O Limite do Humor

Há cerca de um mês, a DC Comics publicou uma minissérie semanal intitulada de Convergência. Caso pretendas lê-la, o que efusivamente não recomendo, sugiro que pule algumas linhas para evitar o azedume do que vou lhe contar. No clímax da saga em questão, um punhado de super-heróis volta no tempo e evita o esfacelamento do Multiverso ocorrido em Crise nas Infinitas Terras, obliterando, pelo menos no nível simbólico, toda e qualquer relevância que o monumental trabalho de Marv Wolfman e George Pérez um dia tivera.

Se esse foi o presente de trigésimo aniversário da obra, prefiro não pensar no que farão no quadragésimo. Se tu gostas da Crise original, acredito que, tal como esse Escapista aqui, talvez não tenhas apreciado – ou sequer compreendido – essa solução mirabolante de Jeff King para resgatar a continuidade Pré-Flashpoint. Ou, vá lá, tornar mais claro o que de fato ocorreu com personagens populares dos “Velhos 52” como, por exemplo, Wally West.

Por que estou falando sobre isso? Porque, para que faça algum sentido, a exemplo do quadrinho supracitado, O Exterminador do Futuro: Gênesis precisa também implodir pilares de sua estrutura narrativa pré-estabelecida, inclusive, dos “doisfilmes canônicos de James Cameron. Quer dizer, é o caminho fácil tomado por quem não tem paciência alguma para se lidar com especificidades cronológicas, muito embora tal percepção esteja escondida em campo aberto, travestida como homenagens a franquia. O que novamente nos remete a Crise e a “celebração” tacanha de seu natalício, isto é, trazendo-a novamente à tona só para depois cancelar sua existência.

Tenho a convicção que toda a ranhetice advinda do casting questionável, das sequências requentadas de ação e até das boas ideias a exemplo do envelhecimento natural da carne que reveste o T-800, tornam-se pequenas depois que o espectador utiliza um ou dois neurônios para tentar racionalizar a profetizada virada de mesa na trama dos Connors e seu patriarca, Reese. Senti-me tão decepcionado com o que estava testemunhando que, acredite ou não, em dado momento fiquei comparando comigo mesmo o que seria menos idiota.

Aliás, mesmo a busca por reinvenções e inversões de paradigmas esbarra na elíptica dicotomia do velho à mercê do novo presente nos três primeiros Exterminadores. Quer dizer, um humano/autômato velhomas não obsoleto? Será?! – se insurgindo contra um antagonista moderno e implacável, estando em jogo o futuro do Messias ou, no caso de Gênesis, garantir o acasalamento¹ dos genitores (?!).


Por outro lado, sinto que o lobby negativo por parte de Cameron e Schwarzenegger, em comum acordo, sabotou o que poderia ser esse T5, isto é, uma continuação de Salvação, apresentando, quem sabe, com mais contundência a máquina do tempo e, por que não, até mesmo a utilização do Sargento William Candy, aproveitando-se, inclusive, da idade avançada do ator austríaco. Mas tu perguntas, quem diabos seria esse Sargento Candy? Em Rebelião das Máquinas, uma cena removida creditava a esse militar o molde utilizado para a linha de montagem original dos T-800.

Contudo, em livros do universo expandidosim, existe um! –, a aparência do robô teria vindo de um agente da CIA chamado Dieter Von Rossbach. Esse personagem foi apresentado na trilogia de romances imaginada como sequência de T2, e inédita no Brasil. 

Exercício de imaginação à parte, como Cameron disparou, Gênesis é “oficialmente” o terceiro filme da saga e, portanto, desde já, o fecho de uma trilogia que só pode ser comparado com o incomparável

¹ Sobre isso, pergunto agora aos leitores escapistas: qual é o limite do humor? Será que o Terminatorverse comporta algo tão escrachado quanto Gênesis ou o padrão que deveria ter sido seguido seria o alívio cômico sutil e natural de Julgamento Final, por exemplo? 

Vou mais longe, a idade me deixou cínico ou o que se vê em T5 é sim hilariante? Sério, quando ouvi a esmagadora maioria dos presentes na minha sala de cinema entregues a um coro de gargalhadas, comecei a cogitar que o problema era comigo. Será?

Teve quem defendeu o indefensável... Achei fofo.

2 comentários:

doggma disse...

Rapaz... Ainda não assisti ao T5. Então só não digo que é um pesar ler seu veredito (e é!), porque as toneladas de clips e trailers já não anteviam mesmo algo promissor.

Acho que o limite do humor varia de acordo com a lógica interna do filme. Claro que ninguém mais espera um Exterminator ameaçador e sinistrão quase slasher, como foi o original. A partir do T2, Cameron estabeleceu concessões pop, como a inserção de ganchos mais espirituosos. Mais do que isso, o personagem corre um sério risco de soar inofensivo, genérico e, pior, autoparódico. E pelo teor do seu texto...

Ps: a sacada do Sgt. Candy achei demais. Eu, o Fivo e o Sandro comentávamos na época sobre a ideia aterradora de ser desse matuto o rosto que ceifou milhares ou até milhões de vidas humanas. Um legado para a posteridade que nem os piores genocidas iriam querer.

Luwig Sá disse...

Dogg, não gostaria de comprometer ainda mais sua experiência intracinema, mas sabe aquela sensação apaziguadora que tu tens quando sai da sala e diz para si mesmo: "é mais ou menos"?!

Pois bem, quando os dias passam, o seu conceito sobre T5 decai a níveis alarmantes. Se os realizadores pegassem a saída de Abrams em Star Trek até que ainda respeitaria suas "boas" intenções, mas eles querem mudar tudo, mas não largam o osso do robô. É frustrante, sobretudo por perceber que não somos mais o público do Terminatorverse, quer dizer, "velhos e obsoletos" numa tacada só.

"[...] comentávamos na época sobre a ideia aterradora de ser desse matuto o rosto que ceifou milhares ou até milhões de vidas humanas."

Em tese, o Adolf também poderia ser taxado como matuto! Eheheheh...

Por outro lado, preferiria ver o Arnold de carne e osso na pele do Dieter ao lado do Connor/Bale num T5 decente.