terça-feira, 30 de junho de 2015

Escapistas do mundo, uni-vos!

Eu não visitava a Paraíba, terra natal de meus pais, havia 22 anos. Calhou de pintar uma oportunidade de vir a Campina Grande (cidade onde tenho avó, tios e primos a rodo) agora no São João e esta acabou sendo, por diversos motivos, uma viagem inesquecível.

Primeiro, pelo óbvio ululante de reencontrar pedaços da minha família e de minha história que andavam praticamente esquecidos, após tanto tempo. Conheci (e re-conheci) parentes e redescobri esta bonita cidade, que parece um ótimo lugar pra se viver.

Segundo, porque tive a oportunidade de conhecer um pouquinho do autodenominado "maior São João do mundo", com direito a show gratuito (e sob chuva torrencial) de Alceu Valença, um dos itens que perduravam na minha Lista da Vergonha - agora, devidamente riscado.

E, por fim, pela oportunidade de conhecer pessoalmente este cara notável, cuja história como blogueiro praticamente se mistura à minha, visto que a gente se acompanha desde os hoje remotos tempos do Gotham City (2002, pense aí!). São mais de 10 anos de amizade, durante os quais a gente discutiu as nerdices que compõem o universo deste e de nossos blogs particulares, mas, também, compartilhamos problemas familiares, profissionais e amorosos - antes, via MSN ou Skype; hoje, via WhatsApp. Verborrágicos que somos, não foram poucas as vezes que nos lançamos em conversas que varavam noites, quando só mesmo o sono era maior que a vontade de continuar.

Lá no Catapop, eu já escrevi alguns textos (hoje arquivados) sobre como amizades de internet podem ser tão reais quanto as presenciais. Chamá-las de "virtuais" é mera formalidade, porque a gente sente quando algo verdadeiro está acontecendo através da tela do computador ou celular. Luiz Gustavo de Sá, a.k.a. Luwig, nunca foi um amigo virtual - só não estava ao alcance de um abraço.

Isto é, até hoje!


Obrigado por tudo, meu chapa! Pelo belo presente, pela breve noitada, mas, principalmente, pela longa amizade. Se tudo der certo, nos veremos novamente sem muita demora.

PS 1: Lembranças a Kaline, uma escudeira à sua altura! :-)

PS 2: Vamos ver se no próximo Encontro de Escapistas temos mais gente na foto! Dogg e Yeoman, o convite está feito!

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Dois One-Shots #3: A Caçada & Uma Proposta Grosseira

Para começar a semana com o pé direito, faço questão que nossos leitores escapistas limpem suas papilas gustativas e apreciem essas duas suculentas entradas: 
 Entre 2010 e 2012, a Panini surpreendeu os leitores ao anunciar o lançamento de Jonah Hex: Marcado pela Violência, edição que compilava os seis primeiros números da elogiada série regular do pistoleiro desfigurado, de Jimmy Palmiotti e Justin Gray. Bom, mas acontece que os italianos não estavam realmente pensando fora da caixa, pelo contrário, a oportunidade fazia o ladrão. Circunstancial ou não, o fato é que após esse encadernado ainda chegariam às bancas mais outros cinco

O último deles, Jonah Hex #6: Balas Não Mentem (Panini/2012) compilou as edições #31-36, e, devo dizer: foi lamentável. Não, não me refiro à qualidade do material, pelo contrário, era sim excelente e a julgar pela boa aceitação da massa de fumetteiros, a coleção teria fôlego para chegar até o seu desfecho (#70). Bem ou mal, sorria, se a publicação teria que ser jogada aos lobos, que nos contentemos de termos chegado a esse “derradeiro” volume. Nele jazem, pelo menos, dois neoclássicos do personagem: A Caçada (#33) e Uma Proposta Grosseira (#36), publicadas originalmente em 2008.

Nesse primeiro conto, nos valeremos novamente da perícia de Darwyn Cooke na Nona Arte, dessa vez, reproduzindo esse belo roteiro de Palmiotti e Gray em A Caçada. A narrativa dá conta de um incidente em algum recôndito do Canadá cujas temperaturas glaciais colocam em xeque a sobrevivência de um pai e um filho. E, bem, Hex não é exatamente o Deus Ex Machina que você desejaria, mas é o que tem para hoje. Se brincar, a melhor história que já li do personagem, mas, claro, novamente me declaro suspeito com essa temática.

Na segunda entrada, o artista convidado seria ninguém menos que J. H. Williams III, o dono dos layouts mais excitantes da indústria norte-americana. Mais que quadrinhos, Williams faz o tipo de arte que deveria ganhar exposições em galerias no mundo a fora. Fico, inclusive, tentado a ter esse pensamento: e se, ao fim de Overture, Neil Gaiman lhe entregasse todos os roteiros originais de Sandman e fizesse a seguinte proposta, “tome, são seus, refaça tudo até a #75”.

Ah, sobre o enredo de Jonah Hex #35¹... Logo após auxiliar o delegado de uma cidadezinha a afugentar um bando que havia se instalado numa concessão alheia, Hex é convidado a passar a noite na casa desse oficial da lei. Como o banco em que resgataria sua recompensa só abriria na manhã seguinte, uma refeição e uma cama não eram lá uma má ideia. O problema foi a outra proposta.

¹ Fui o único que teve essa impressão ou Williams homenageou mesmo o Tenente Blueberry?

Em tempo...


Certa feita, um jovem nobre escocês chamado Jay Cavendish se apaixonou por Rose Ross, uma plebeia alguns anos mais velha que ele. Inconformado com essa paixonite adolescente, seu pai decide intervir e, acidentalmente, é morto. As coisas, porém, saem do controle e os Ross são acusados de tê-lo assassinado, forçando-os a fugir e tentar a sorte na América do mítico Velho Oeste.

Desconhecendo que a cabeça de sua amada está à prêmio, Jay decide ir ao seu encontro, atraindo a atenção de Silas Selleck, um caçador de recompensas que está disposto a servir como um guia. Longa de estreia do diretor John Maclean, Slow West é um Western fora do convencional, com toques de humor negro² e epifanias estilísticas típicas do cinema indie. Michael Fassbender (o Silas) sobra em cena e se porventura fosse lhe dado uma cicatriz horrenda no lado direito da face, confie em mim, ele faria “bonito” na pele do Senhor Hex.

² Com apenas uma hora e vinte minutos de projeção, o filme pode ser encarado como um desdobramento mais sóbrio disso aqui. Só para constar, mil vezes mais sóbrio! 

Bom apetite. 
A seguir, os pratos principais dos Chefs Escapistas.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Há pouco tempo, numa galáxia muito, muito distante...

O que põe termo ao direito imaterial é o domínio público, uma zona cinzenta onde uma propriedade intelectual sui generis, após algumas dezenas de anos após a morte de seu autor-criador, ultrapassa as amarras das legislações protecionistas e, por fim, fica à disposição da sociedade como um espécime de patrimônio cultural da humanidade. É algo fascinante, mas se refletires um pouco, a cada dia menos usual como outrora se via, principalmente, na Literatura. 

Quer dizer, imagine o caso de J. K. Rowling, a famosa escritora de Harry Potter. Ela e sua progênie são os únicos proprietários de um universo literário ficcional que alçou ao status de franquia milionária e, recentemente, um sucesso de público que até hoje a Warner Brothers ainda não conseguiu repetir. Imagine também que daqui há vários invernos ela conheça seu último inverno e, com muitos invernos ainda porvir, seus herdeiros passem a serem os donos legítimos dessa marca, podendo desfrutar de seus despojos e até mesmo dos destinos criativos dos personagens. Esse, portanto, seria um desdobramento hipotético o qual, a título de exemplo, usufrui o irascível rebento de J. R. R. Tolkienque resguarda a Terra Média com “Um Anel” forjado em documentos legais tão poderosos quanto a famigerada joia de Sauron.

Por outro lado, na via contrária desse processo, existem autores-criadores como George Lucas, que abrem mão de seu “Um Anel” – ou seria sua “Ferroada”, ou seria seu sabre de luz? – e por uma quantia multibilionária, transferem sua propriedade intelectual para conglomerados do entretenimento como a Disney, criando um cenário inusitado: o criador não mais influi nos rumos das criaturas, nessa realidade, embora esteja vivo e bem ($), Lucas agora é tão relevante para J. J. Abrams quanto Arthur Conan Doyle é hoje para David Shore, Guy Ritchie, Mark Gatiss ou Steven Moffat. 

Não que, historicamente, o controle criativo de Star Wars sempre esteve sitiado e sob o jugo de Lucas, pelo contrário, os fãs têm conhecimento de que a atual configuração daquele universo é fruto de um trabalho colaborativo tão extenso, que fugiu completamente ao domínio do criador. Estamos falando da expansão daquele universo, “fanfics” com o aval extraoficial de Lucas e que, muito embora, tenham sido substratos para conceitos, tramas e personagens, por sinal, muitos deles, inclusive, aproveitados na nova trilogia e em Clone Warsverdade seja dita –, nunca conseguiram uma sustentação canônica 100% confiável, como muitos fãs gostariam de crer.
 Além de relegar a Lucas o papel simbólico de “consultor criativo”, a aquisição de Star Wars pela Disney mudou, pelo menos, duas coisas: (1) o universo expandido pré-Disneydiferenciado pelo selo “Legends – trabalhado nos quadrinhos da Dark Horse e em livros como os de Timothy Zahn, não fazem parte do cânone; (2) em apertada síntese, o que faz agora parte do cânone é apenas a hexalogia, as seis temporadas de Clone Wars, Rebels, os livros e quadrinhos (Marvel) após o aludido acordo.
 À primeira vista, a linha demarcatória parece acessível e convidativa, sobretudo para os neófitos, mas receio que isso não seja tão simples quanto parece. Reiterando, vários conceitos, tramas e personagens presentes no cânone foram apresentados originalmente no universo expandido¹ e, posteriormente, aproveitados na nova trilogia e, mais detalhadamente, em Clone Wars como, por exemplo, Aayla Secura, Aurra Sing, Quinlan Vos, as Nightsisters e vários primados constantes em O Caminho Jedi, O Livro dos Sith e O Código do Caçador de Recompensas. Logo, por mais que se queira fechar os olhos para esse legado rejeitado, de certo modo, ele já está silenciosamente entranhado em Star Wars e, nesse sentido, não há nada que a Disney possa fazer a respeito. 

Doravante, o que a Disney fez – e fez muito bem! – foi efetivar a presumida transição da gestão Dark Horse para a Marvel, de modo que caberia a segunda a manutenção do novo universo expandido em quadrinhos – e agora sim com o status oficial de cânone. A julgar pelas primeiras séries, a passagem de editoras foi algo mais que uma mera dança de cadeiras:

Star Wars: Skywalker Strikes

O carro-chefe da empreitada começou com o pé direito e uma mensagem muito clara: a Marvel não relegaria Star Wars a desconhecidos/principiantes e nem tão pouco sairia por aí despejando títulos e mais títulos sem nenhum critério de qualidade. Nesse diapasão, a opção por Jason Aaron (Escalpo) e John Cassaday (Planetary) como mestres de cerimônia revela que a Casa das Ideias não está para brincadeira. 

O que é brincadeira é o quanto esse arco de debute é bom. Tu realmente acreditas que essa sim foi de fato a primeira história que degustastes após assistir o icônico Episódio IV. O enredo em questão coloca Luke e Cia. em uma missão para desmantelar uma das principais fábricas de armas do Império. De leitura rápida e arte deveras cinética, é daqueles álbuns repletos de piadas internas, para fãs mesmo. O desfecho da história entrega ao menos uma ou duas premissas instigantes para o próximo arco. 

Star Wars: Darth Vader, Volume 1
 Desde que encontrou seu destino há cerca de vinte anos em Mustafar, Anakin Skywalker não construiu sua reputação de Lorde Sith com impasses ou fracassos sobre os ombros. Posto isso, o que a destruição da Estrela da Morte e o incidente de Cymoon 1 têm em comum é o mesmo sabor amargo da derrota, rebaixando ainda mais o conceito que Darth Sidious já passara a ter pelo pupilo. 

A narrativa de Kieron Gillen (The Wicked & The Divine) e Sal Larroca (Invincible Iron Man) propõe uma busca de Vader pela redenção, que ocorre nos bastidores da série carro-chefe, apresentando também a simpática Doutora Aphra e os dróides Triplo-O e BTvariantes “psicopatas” de C3PO e R2D2:
 Destaque também para a caracterização engenhosa conferida a Vader, aproximando-o das peripécias improvisadas que costumava protagonizar em Clone Wars. E só para fins de registro, dentre as séries elencadas aqui, devo dizer que essa não é apenas a minha predileta, mas creio que seja também um dos melhores títulos em publicação na Marvel

Star Wars: Princess Leia
 Desde que tomei como hábito o gosto pelas reprises anuais de Star Wars sempre me questionei sobre a suposta reação apática da Princesa Leia a destruição de seu planeta Alderaan. Mark Waid (Demolidor) e Terry Dodson (X-Men) foram ao encontro dessas respostas para mim. 

Star Wars: Kanan, The Last Padawan
 Antes de ir à cata dessa série, por gentileza, faça um favor a si próprio e assista a Rebels². Trata-se do seriado que sucedeu Clone Wars, e tem seu lugar nos quinze (dos vinte) anos que separam os Episódios III e IV, narrando desventuras de um séquito de rebeldes desgarrados da Aliança Rebelde propriamente dita. O centro da trama, porém, é a relação de idas e vindas de Kanan Jarros/Caleb Dume e Ezra Bridger


 O primeiro foi um Padawan que sobreviveu a Ordem 66; e o segundo, o “Padawan” do primeiro. Paradoxal, hã? Exatamente! E reside aí uma dinâmica no mínimo peculiar, onde o “Mestre” nunca teve a chance de completar seu treinamento e um “Padawan” que terá que se contentar com um treinamento meia-boca. O quadrinho de Greg Weisman (Young Justice) e Pepe Larraz (Wolverine & The X-Men) se debruça exatamente nos anos perdidos de Caleb Dume, logo após o massacre dos Jedis

No mais, o horizonte reserva ainda dois grandes lançamentos até a estreia do Episódio VII, quais sejam: 

Star Wars: Lando, por Charles Soule (Monstro do Pântano) e Alex Maleev (Demolidor):

 
Star Wars: Shattered Empire, por Greg Rucka e Marco Chechetto (Justiceiro):

Esse último, um prelúdio para o filme homônimo. 

¹ IMHO, o ideal seria que os atuais realizadores fizessem uma triagem corajosa dos quadrinhos e livros mais relevantes, pinçando aqueles que representam o ideário de uma franquia que nunca poderá ser trabalhada em todos os seus meandros. 

² Mal posso esperar para ver a acareação entre Vader e sua outrora Padawan, Ahsoka Tano. Promete ser um dos grandes momentos de Rebels em 2015.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Queria Tirar do Plástico #2: ba BA-ba BOOK! BOOK! BOOK!

Sensação do horror indie, The Babadook não é exatamente uma unanimidade. Mas ao menos uma sequência do filme deve ter arrancado sorrisos nervosos por aí...


Achei o filme um dos mais inventivos dos últimos anos e confesso que após o review do Marlo andei revisitando a obra e gostando ainda mais. O problema é que, fora o filme propriamente dito, um objeto de desejo impossível teimava em me perseguir com a obsessão do Sr. Babadook em pessoa (ou em ectoplasma, projeção psíquica, etc): o livro pop-up!

Pode ser o meu lado verme colecionista de quadrinhos tomando as rédeas, mas o fato é que quis aquele livrão macabro assombrando minha estante no momento em que pus os olhos nele pela 1ª vez.

Criada pelo designer Alexander Juhasz"Mr. Babadook" seria uma peça difícil de justificar. Não é tipo da coisa que você gostaria que sua mamãe folheasse (a minha ainda se recupera de uma folheada fatal em Do Inferno!). É doentia, perturbadora, tétrica, mas absolutamente onírica e evocativa. Tanto que foi até foi reaproveitada na luva do blu-ray do filme.

Fora o óbvio: é um livro pop-up. Não abro um desses desde o meu 1º dia na creche. Seria o meu livro de colorir para adultos/vergonha alheia.

Mas que se dane. Não poderia comprar mesmo.

Ou não...?




Pra minha surpresa, o livro "Mr. Babadook" realmente foi disponibilizado para encomenda! Segundo o release da Insight Editions, a publicação contém páginas extras criadas pelo próprio Alex Juhasz continuando a narrativa sinistra do livro mostrado no filme.

Preço from hell de 80 doletas, cerca de 248 dilmas no câmbio de hoje. Algo a se pensar, se eu fosse uma criatura racional nesses casos.

Infelizmente - ou felizmente, não sei - um único detalhe me impede de cometer essa sandice: a tiragem limitada de 6.200 cópias direto no site oficial se esgotou rapidamente. Há meses.


E pelo que li por aí, não há qualquer intenção de lançarem uma nova tiragem da obra.

Nem queria mesmo... agora, dá licença que vou ali no muro tirar um cisco do olho...

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Será que é isso que eu necessito?


Não é novidade que os leitores de HQs mais velhos têm passado poucas e boas com esse mercado nos últimos anos. Não é preciso ser PhD em Economia: reformulações de produtos clássicos visando atender uma nova geração de consumidores são a ordem do dia desde que o mundo é mundo. Em tese, parece uma prática saudável, tanto comercial quanto criativamente. Só que quanto mais radicais e frequentes são as reformulações, mais dão vazão a expressões melancólicas como "não é mais pra mim", "só compro relançamentos de clássicos", etc.

Não sei se os quadrinhos antigos eram realmente melhores (eram sim) ou se sou eu que estou velho demais (estamos, vide o sucesso da série Coleção Histórica Marvel). A saída, de um modo geral, tem sido buscar refúgio em searas indie e européias, antes relegadas a breves escalas turísticas. Contudo, uma vida à base de Marvel e DC não se deixa diminuir assim tão fácil.

Virar as costas para o novo é bem mais cômodo. Mas por conta da nossa paixão pela arte #9, ficar indiferente é quase sempre uma meta, não uma realização.

Pessoalmente, tento ser receptivo e, por assim dizer, dialogar com essas novas ideias. Mas quando vejo uma premissa alardeando que o Vigia Uatu esconde alguns esqueletos debaixo da túnica, penso que o diálogo nunca foi uma opção.


Ou quando o Peter Parker esteve preso no corpo moribundo do Dr. Octopus.


Ou quando o Lobo virou hipster.


Ou quando...


Não me orgulho em dizer "não li e não gostei", nem mesmo nesses casos. Mas até onde me consta, não perdi muita coisa. O problema é ideológico: a falta de conhecimento é o combustível da intolerância. E intolerância é mato.

Um exemplo é a minha aversão aos Novos 52: fiquei surpreso ao saber das boas fases do Batman e do Monstro do Pântano, aqui mesmo, por dois Escapistas. Ambas já foram pra lista de leitura, aumentando ainda mais a pilha.

Claro que ninguém é obrigado a gostar de uma HQ só por que foi o Grant Morrison quem escreveu ou por que "é a nova coqueluche entre a garotada" (alguém lembra dessa expressão?). Um ponto, porém, me parece crucial: ser imparcial com abordagens radicais daquilo que você tanto prezou por anos a fio. Mesmo que seja tudo "all-new, all-different".

Ps de ocasião: dia desses, em uma banca, ganhando um olhar torto do jornaleiro/bicheiro enquanto pagava por um gibi. Levei meu 1º "unf" em muitos anos! Nem sabia que ainda fabricavam desses.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Vingadores, nível HARD!


Fato Flash: ser nerd está na moda. Period! Nem vou me arriscar a desenvolver isso melhor. É o que tem pra hoje, convivam com isso.

Felizmente, ainda existe um recôndito nerd, um nicho do nicho do nicho. E não estou falando de Furries, ainda não cheguei a tanto, alto lá. Estou falando de CRONOLOGIA!

É um tema complicado: Há quem curte e não vive sem. Outros consideram uma complicação desnecessária, algo que deixa o tema pouco amigável para novos consumidores. E há o nível Grant Morrison, só acessível se você tiver um círculo de proteção.

Kurt Busiek é um autor que sabe trabalhar com cronologia como ninguém. MARVELS é um bom exemplo disso, entra fácil na categoria Clássico Obrigatório. Vingadores Eternamente não é tão emblemática quanto MARVELS, mas é uma ótima história cujo o personagem principal é a cronologia.


Vingadores Eternamente saiu na Linha Premium da Abril, a nossa Idade das Trevas dos Quadrinhos. Por isso mesmo é pouco conhecida. Um pecado! Se você só conhece os Vingadores do cinema, passe longe, isso vai dar dor de cabeça.

Mas se você é um leitor destemido, que conhece as histórias antigas dos Vingadores, sabe o que é uma Madona Celestial, não tem medo dos filhos hipotéticos da Wanda, tem uma opinião formada sobre a origem do Visão, gosta de todas as múltiplas personalidades do Hank Pym e acha que o Kang é um personagem com potencial, Vingadores Eternamente é a sua história.


A saga, publicada originalmente em 12 edições, foi reunida em 2 volumes e acabou de ser lançada em banca pela coleção Marvel Salvat. Publicada no finalzinho dos anos 90, durante a hegemonia dos X-títulos, a série é corajosa por usar não a equipe atual dos Vingadores (escrito por Busiek também na época) e sim uma seleção dos heróis do passado, presente e futuro da equipe.

É aí que a série se torna encantadora para quem gosta dos Vingadores. O grupo reunido para proteger Rick Jones (o sidekick de plantão) é uma insanidade cronológica, com direito a DOIS Hank Pym, em sua versão Gigante e Jaqueta Amarela.


Outro ponto positivo da série é o uso de vilões recorrentes do título, com destaque para Kang, fazendo jus ao título "o Conquistador". O Kang não é um vilão muito popular (nível Dr. Destino ou Magneto), tem um visual esquisito (verde e roxo), mas sua participação na saga é sensacional!

Busiek explora muito bem o fato que Kang tem um background complicadíssimo. Por conta de suas viagens temporais, Kang já foi desdobrado em vários alter egos e personagens diferentes  - que aparecem na história como aliado e antagonista dos Vingadores. É um barato ver o vilão interagindo com Immortus ou o faraó Rama Tut, duas versões alternativas do passado e futuro.


Complicou?  Ótimo, o objetivo não é ser fácil mesmo. Nível Hard, lembre-se disso.

Se até agora nenhum desses argumentos foi suficiente para você ler Vingadores Eternamente, deixei o melhor para o final: a arte é de Carlos Pacheco (Truco Marreco!). O Pachecão está com o lápis afiado, capricha no primeiro e no segundo plano, com cenários fantástico que vão de um limbo interdimensional para o Velho Oeste americano.

É uma arte limpa, num estilo bem clássico para a enorme quantidade de personagens que transitam pelas 12 partes da saga. Vale a pena reparar no cuidado com as caracterizações do núcleo principal. Basta ver que é fácil reconhecer as fisionomias distintas do Gavião Arqueiro, o Capitão Marvel e o Jaqueta Amarela sem máscaras. 

Leitura recomendadíssima, republicação mais do que merecida. Desbloqueie esse Achievement Challenge de Expert em Cronologia lendo uma ótima história. 


quinta-feira, 18 de junho de 2015

Queria Tirar do Plástico #1: Dios es Español

Colecionador de histórias em quadrinhos é bicho invejoso, que nem se cria e muito menos se contenta com pouco. Pode estar na pindaíba e com o cheque especial abaixo de zero, mas caso se depare com aquele lançamento em capa dura/papel LWCcujo conteúdo, detalhe, é exatamente o mesmo da versão no formato minissérie/compilado cartonado que possui no seu acervo –, é bem possível que esse “bicho” faça um empréstimo consignado com a aposentadoria da própria mãe e o adquira já em pré-venda. 

No que diz respeito à Panini, atualmente, pouco se tem a repreendê-la no quesito lançamentos/relançamentos, mas, na condição de “bicho” do gênero DCnauta, devo dizer que sinto falta de muitos itens clássicos no aconchego da minha estante. Alguns desses vêm sendo publicados pela ECC Ediciones, a versão espanhola do nosso “queridogrupo editorial italiano. Presente há quinze anos na indústria dos quadrinhos, a ECC é a atual licenciada dos conteúdos da DC Comics na Espanha e países de língua castelhana como a Argentina e o Chile

Bicho” curioso que sou, dei uma boa bisbilhotada no conteúdo deles e rapidamente pude apurar que, muito embora, a linha de publicações regulares seja bem menos abrangente que a nossa, a opção da ECC que diverge mesmo em relação à Panini é a de lançar diretamente em edições encorpadas encadernadas? os títulos que aqui tradicionalmente chegam em revistas mixes. Como se apenas isso já não fosse motivo suficiente para atiçar a inveja dos “bichos” brasileiros, a diversidade de álbuns obrigatórios só contesta a teoria de que Deus seria brasileiro

 Dios es español. Rao también.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Meu Pequeno Escorpião

Há algo de muito estranho no olhar de Eva Green. Algo que provavelmente me fugirá as palavras tão logo tente manipulá-las para que esse raciocínio faça o mínimo sentido, mas que há algo ali, isso há. Algo que lhe habilita a vestir e se despir de corpos com maneirismos exóticos ímpares, de naturezas indeléveis e órbitas cerradas tão perturbadoras que caso ela tivesse nascido há uma Idade Média de distância, certamente passaria por maus bocados, quiçá, fogueiras inquisitivas. 

Não cometa o erro de alinhar os seus olhos aos dela, fitando-os através da telinha; caso o faça, é bastante provável que o tecido da realidade seja feito em pedaços e sequer se dê conta da enrascada que se meteu. Se o fizer e tornar ao plano físico ainda em sã consciência, é de se convir que possa resistir ao vodu de Isabelle¹, Vesper Lynd, Morgana Le Fay, Angelique Bouchard ou Artemisia. A travessia, contudo, lhe dará a certeza que, bem ou mal, todas elas são parte da fascinante Vanessa Ives, de Penny Dreadful²

Personagem das mais fascinantes, Ives é uma médium da Londres da Era Vitoriana que além de ser um para-raios para entidades sobrenaturais, suspeita-se que o suprassumo das hostes demoníacas esteja também em seu encalço. Até então, pouco se conhecia sobre suas habilidades, aliás, até a estreia de The Nightcomers (S02E03), tanto a audiência quanto os integrantes dessa “Liga Extraordinária” sequer imaginavam que haviam segredos a serem desvelados. Parte desses segredos é trazida à tona nesse inesquecível capítulo, no qual uma jovem Vanessa torna-se a aprendiz de Madame Corte, uma bruxa anciã de Ballentree Moor.
 Provavelmente, o mais catártico episódio dentre os quinze exibidos até aqui, é a partir de The Nightcomers que passamos a compreender o sentido por trás do selo de proteção do escorpião, exaustivamente utilizado pela personagem, bem como a perda que a levou a ser tornar tão avessa e temerosa com relacionamentos interpessoais. Outrossim, também aprendemos que ela sabe muito mais do que deixa transparecer. 

Mas Penny Dreadful não é apenas sobre Vanessa Ives, ou só outro oportunismo casuístico, pelo contrário, trata-se de uma distinta peça de tapeçaria cujos filamentos oriundos de entrelaçamentos de narrativas fantásticas clássicas, pode vir a se tornar a obra-prima de um mestre tecelão: John Logan³.

E como diria Mateus 11.6, "E felizes são aqueles que não abandonam sua fé em mim".   

¹ Isso sempre me atormentou: seria Fivo uma das múltiplas personalidades de Doggma, ou Doggma seria um Homem Sem Rosto, crente no Deus de Muitas Faces

² Caso o leitor seja tão puro quanto o Escapista Marlo, e ainda não tenha vendido a alma para o Kick-Ass Torrents, a Netflix acaba de agregar ao seu acervo o primeiro ano da série.

³ Que bela reputação a do Senhor Logan, não? Um Domingo Qualquer, Jornadas nas Estrelas: Nêmesis, O Aviador, Sweeney Todd, Coriolano e 007: Operação Skyfall, são como cantigas de ninar para esse humilde escapista que vos fala escreve. 

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Dois One-Shots #2: O Sobrevivente & Duro Feito Cetim

Para começar a semana com o pé direito, faço questão que nossos leitores escapistas limpem suas papilas gustativas e apreciem essas duas suculentas entradas: 
  E para tanto, nada melhor que utilizar a retroescavedeira do almoxarifado e desencavar O Sobrevivente¹, um conto de sete páginas do Spirit de Will Eisner. Publicado originalmente em julho de 1950, como parte integrante dos usuais suplementos dominicais dedicados a quadrinhos que circulavam em jornais norte-americanos; no Brasil, se não estou enganado, a historieta em questão contou com duas reproduções: uma em Spirit #1 (L&PM /1985) e dez anos mais tarde em Spirit #5 (Devir/1995). 

A narrativa curta remontava o insólito caso em que um avião especial da polícia que transportava criminosos da Costa Oeste para Central City sofre uma pane e cai em algum ponto da região desértica do estado de Utah. Sobrevivem ao acidente dois indivíduos: o Spirit, que ajudava na escolta, e o prisioneiro Tate, “O Farrapo”. Sem perspectiva à vista de resgate, ambos terão que “sobreviver” ao clima/terreno hostil² e, pior do que isso, a si próprios. 

¹ Na versão da L&PM, tal como original, se chamava “O Sobrevivente”; contudo, na republicação norte-americana foi rebatizada para “O Deserto”, que foi a opção da Devir

² Tenho um verdadeiro fascínio por essa temática.
  A segunda entrada fica a cargo de Spirit #2 (Panini/2008), de Darwyn Cooke, que homenageia o supracitado one-shot de Eisner. Em Duro Feito Cetim, somos apresentados a reinvenção³ de Cooke para a personagem Silk Satin, uma agente da CIA desacreditada entre seus pares por ter sido negligente no traslado de um suposto terrorista que fugiu de sua custódia. 

Para se redimir, decide ir sozinha a fronteira com o México, o último paradeiro do fugitivo, mas acaba cruzando com o Denny Colt, que oferece sua ajuda. Emboscados pelo Octógono, os dois sobrevivem ao ardil, mas terão que, bem ou mal, achar seu caminho de volta juntos. 

Bom apetite.
A seguir, os pratos principais dos Chefs Escapistas.

³ Publicado no Brasil em uma subestimada minissérie de cinco edições, alvo de vários olhares tortos pelos fãs xiitas – que, claro, não me incluo entre eles.

domingo, 14 de junho de 2015

Tenha Bat-Pensamentos Felizes

Não é um princípio absoluto, mas deveria: os limites de um público leitor são ditados pelos autores-criadores. Ponto. Na literatura e nas narrativas gráficas autorais, esse bem que pode ser um primado inviolável, contudo, em seguimentos mainstream da nona arte como a linha editorial dos Novos 52, a percepção que o leitor veterano tem é de que o vale-tudo vanguardista só perpassa títulos em que equipes criativas estejam blindadas com os números. 

Um título com média de 130 mil cópias vendidas mensalmente, e que quatro anos figura livremente entre os cinco mais vendidos do ranking da Diamond, certamente credencia sua equipe criativa titular a alçar voos nas camadas mais altas da atmosfera terrestre. No que diz respeito ao carro-chefe da franquia quiróptera, pode-se dizer que o Batman de Scotty Snyder e Greg Capullo nessa edição #41 chegou a estratosfera. Afinal, em que Terra Paralela faria sentido vislumbrar um Jim Gordon se autoproclamando como um “Batman”, sobretudo num traje mecha de design questionável?
  Antecipando praticamente todas as chacotas que tomaram de assalto as redes sociais, o quadrinho em questão pega emprestado alguns conceitos do Robocop de José Padilha e abraça a ideia de que não importa quem esteja embuçando o capuz, o coração e a determinação certa lhe qualificam como um Batman. Na realidade, já se viu algo assim¹ na extinta Corporação de Grant Morrison, mas na escala sugerida por Snyder, quer dizer, nessa versão do homem por trás do morcego, acredito que seja a primeira vez. A sensação soa parecida com a de outra reinvenção polêmica, tão recente quanto esta. 


¹ Também insinuado nesse spot de Arkham Knight do PS4. 

Por outro lado, quem chegou até aqui, após a leitura das quarenta e umas edições desse Batman, sabe que não deve subestimar o trabalho contundente de Snyder e Capullo. Quer dizer, confesso que, sem antever o quadro geral de Ano Zero, cheguei a questioná-lo sobre a viabilidade do arco, contudo, hoje, volto atrás e digo-lhes que os três atos dessa história compõem um mosaico interessantíssimo sobre os primórdios do morcego – o terceiro, “A Cidade Selvagem” (#30-33), foi nada menos que apoteótico

E lá atrás, em O Espelho Sombrioei, sério que ainda não saiu um HC indonésio disso por aqui? –, já se percebia um sentido místico de Gotham, onde fracos não têm vez, e a certeza que, caso um autor com um punhado de boas ideias desejasse e, melhor que isso, tivesse a chance de fazê-lo, Gordon poderia sim conduzir seu próprio título mensal.
  Duas certezas, contudo, despontam no desfecho dessa edição #41: (1) pelo menos nos próximos meses, os holofotes estarão voltados para Jim – e relaxe, se a trama de “Superheavy” seguir no crescendo que imagino que seguirá, tenho certeza que a diversão está garantida; e (2) [SPOILER] o Bruce ________ para __________.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Os Nerds também Amam



Há exatos cinco anos fiz uma pequena participação no Comic Show, o extinto videocast da Comic House, loja especializada em quadrinhos do meu amigo Manassés Filho, em João Pessoa. O episódio em questão era um especial de Dia dos Namorados, e contava com algumas figurinhas ilustres da cena pop pessoense como Audaci Júnior, Renato Félix e Samuel Góis

Ao revê-lo, a constatação imediata que me veio é que prefiro mil vezes estar por trás de um teclado alfanumérico do que sob o foco de uma câmera de vídeo (do Daslei), mas pelo bem da verdade: gostaria de ter mais tardes como a daquela ocasião. 

Em tempo: 

O último texto do Escapista Reginaldo surtiu em mim um efeito rebote inesperado: hoje cedo fui presenteado por minha esposa com esse inigualável colecionável do Monstro do Pântano, baseado no traço de Yanick Paquette.
 Vai ser praticamente impossível comprar para minha senhora um presente que esteja à altura desse...

quinta-feira, 11 de junho de 2015

O Homem Sem DDepressão

Nada poderia me preparar para isso... 
 Mark Waid tem sido tão ousado quanto o pobre diabo em questão, transformando em uma leitura despretensiosa, leve e revigorante um título cujo protagonista, desde sua segunda gênese, sempre teve como mola propulsora suas próprias tragédias pessoais. Mas calma lá! Sei que isso soa como se Matt Murdock estivesse sendo descaracterizado pelo bem da galhofa, contudo, é exatamente o contrário, o que Waid está fazendo é um espécime de agregado de discursos, mezzo Lee, Everett, Kirby, Wally Wood, John Romita, Sr., e Gene Colan; mezzo Miller, Nocenti, Chichester, Smith, Mack, Bendis, Brubaker

Parece estranho, só que, cerca de sessenta edições, três Eisner e um Harvey Awards depois, o caso é que esse pot-pourri de estilos tem funcionado a contento, trazendo à tona uma narrativa que, embora seja clássica, é também ágil e moderna por inovar no trato com os quatro super-sentidos, retirar o Demolidor da Cozinha do Inferno – sua zona de conforto particular – e lançar mão de certos paradigmas muito caros aos super-heróis. 

Vamos por partes:

Nunca – sim, eu disse nunca! – o sistema de ecolocalização de Matt fora investigado e esmiuçado com tanta contundência e imaginação quanto na gestão Waid. De um modo que instila o leitor a fechar os próprios olhos e imaginar-se na pele do personagem, identificando os contrastes do ambiente entre odores, percepções e sons, inovando não apenas enquanto norte estético para as composições gráficas de Marcos Martin, Paolo Rivera e Chris Samnee, como também na concepção de sua inusitada visão de mundo.
 O bromance Murdock/Nelson deixa de lado a irritante birra de Foggy com a vida dupla do amigo, perpetrada por praticamente todos os autores contemporâneos que já tiveram a chance de ficar a frente da revista mensal¹, para alinhá-los finalmente como iguais, amigos que partilham de afinidades superiores a mera compulsão de julgamentos recíprocos. Isso, a propósito, fica evidente desde os primórdios da série, mas ganha outros contornos quando Foggy é diagnosticado com Câncer e sua luta para vencê-lo passa a ser o catalisador de cruzadas pessoais e redescobertas alheias. A sequência reproduzida logo acima é um desses grandes e singelos momentos.
 Se por um lado, desde a Queda de Murdock o sigilo da identidade secreta do Demolidor já havia se tornado algo sensível e sujeito aos humores de Wilson Fisk; do outro, em O Segundo Homem, por Brian Bendis, estabelece-se que Fisk não havia guardado essa informação apenas para si, na realidade, ele a havia compartimentado junto à bandidagem de seu círculo interno. Esse conhecimento, aliás, vira troça entre eles e acaba chegando aos ouvidos errados de Sammy Silke, que o difunde. O resto é história e a parte que coube a Waid foi deixar de lado a negativa plausível de Matt, vestindo em definitivo a camisa do Demolidor

Ao fazê-lo, contudo, acabou sepultando sua carreira jurídica e, por tabela, a de Foggy. Bom, pelo menos no estado de Nova Iorque, o que não o impossibilitaria de atuar em outra circunscrição que já tivera litigado junto à Ordem local. Esse local chama-se São Francisco, Califórnia, e estabelece tanto um recomeço simbólico para o personagem – inclusive, engatilhando sua quarta série nos Estados Unidos –, quanto dinâmicas inéditas na carreira do vigilante. Isto é, Matt e seu alter ego são tão bem recepcionados que alçam ao status de celebridades e, quem diria, “eles” passam a apreciar esse novo estilo de vida. Algo que, por sinal, acaba me remetendo a um “e se” involuntário sobre o rumo que Peter Parker poderia ter tomado sem aquele passe de mágica.
 Por outro aspecto, nem tudo é alegria. Matt, Foggy e Kirsten estão duros, e todo o patrimônio da Nelson & Murdock se esvaiu quando o “gatodo Demolidor saiu definitivamente do "saco". A alternativa se apresenta quando o Homem Sem Medo recebe uma proposta milionária para redigir sua própria autobiografia, o que prontamente é aceita – cabendo a Foggy o cargo de biógrafo – e deve ser o bastante para os tirarem da bancarrota e manter o tratamento caríssimo do amigo canceroso.
 No Brasil acaba de chegar às bancas a edição #7 da série de compilados da Era Waid que a Panini vem publicando desde 2013 e que, oportunamente, dá o pontapé inicial a esse admirável mundo novo californiano (#0-4). Mesmo para quem não comprou nenhum dos seis exemplares anteriores, recomendo a aquisição desse sétimo, pois, além de ser um ótimo ponto de partida, é também um marco na trajetória do personagem que, se Mefisto permitir, deve ecoar por muitos anos. 

¹ O Demolidor nunca foi um personagem cujas atenções mediante sucessos de público e crítica se revertessem em superexposições do personagem. Quer dizer, mesmo com o reconhecimento advindo de diversas premiações na indústria e um seriado celebrado por fãs e neófitos, o super-herói em questão sempre manteve – e mantém ainda – apenas um título mensal, passando ao largo de todo e qualquer reboot, relanch, revamp ou proposta indecorosa. Matt Murdock deveria fundar uma religião

Em tempo:
 Não vejo a hora de curtir essa DDepressão...