Por onde
começar? Ou recomeçar?
Se você
acompanha meus tweets, deve ter percebido uma ligeira decepção com o
posicionamento atual da indústria dos quadrinhos, principalmente as manobras
puramente corporativa das duas majors, a DC Entertainment e a Marvel (que
poderia muito bem se chamar Marvel Movies e otras cositas más), mas quero
começar de forma positiva. Quem sabe “voltar para épocas mais simples, com
armas mais elegantes...”
Não , não vou
puxar meu lightsaber (ainda não). Ao invés disso, vou falar sobre um livro
fantástico que aborda o início da Indústria dos Quadrinhos. Estou falando de As Incríveis Aventuras de Kavalier & Clay, do escritor Michael Chabon. Um resgate
da criação do gênero fantasia de poder, no inicio do século XX.
Cabe aqui um
breve parêntesis: (essa Era de Ouro nem era tão dourada assim, basta ler Homens do Amanhã, outro petardo em forma de livro). Fecha parêntesis. Mesmo assim,
Michael Chabon consegue criar uma ficção cativante que retrata muito bem não só
a origem mercadológica dos comics de
heróis, mas principalmente o processo de criação que esses homens
comuns misturaram para compor o Mito Moderno.
Essa é a
parte mais interessante do livro: a forma como o talentoso Joe Kavalier e o primo
antenado Sam Clay combinam suas origens, formações, sonhos, anseios e
traumas para criar o personagem
Escapista. E, semelhante a lenda do Golem (tão importante para a trama), a
criatura Escapista ganha vida própria fugindo da impressão barata dos quadrinhos
para um programa de rádio típico dos anos 50. É a concretização dos desejos
mais secretos dos criadores, em mais de um sentido.
A história termina nos anos 50, mas é bem possível visualizar a progressão do Escapista, quem sabe uma adaptação cinematográfica ou com sorte, uma respeitável série na Netflix. Sonhar não custa nada.
Michael Chabon cria uma história uma história fantástica - ganhadora do prêmio Pulitzer de 2001 na categoria Melhor Romance - ao retratar de forma muito mais palatável a mesma realidade descrita em Homens do Amanhã e Marvel Comics - A História Secreta.
Mais do que isso, As Incríveis Aventuras de Kavalier e Clay
exemplifica a teoria do Superconceito de Grant Morrison. Em Superdeuses,
Morrison diz que antes da criação do Super-Homem havia a ideia do Super-Homem.
E que antes da bomba atômica havia o conceito primordial da bomba atômica. E a maior força do Super-Homem está nessa ideia: o conceito primordial do Super-Homem é muito mais forte que a ideia da
bomba atômica.
É esse conceito de poder que ainda me seduz e que eu acredito que nenhuma decisão editorial calcada só em cifras financeiras consegue ou conseguirá destruir.
Kavalier & Clay. Ou Siegel & Shuster. Eles também acreditavam nisso.
Vladimir Putin indicaria: um pequeno arremate que quero deixar em cada post. O cafezinho no final daquela refeição. A bola da vez é a versão quadrinizada dos personagens criados por Kavalier e Clay. Vale a pena procurar os dois volumes reunindo grandes nomes dos quadrinhos como Howard Chaykin, Bill Sienkiewicz, Marv Wolfman, BKV, Gene Colan, etc. Espere os Obamas baixarem e importe sua edição.
É esse conceito de poder que ainda me seduz e que eu acredito que nenhuma decisão editorial calcada só em cifras financeiras consegue ou conseguirá destruir.
Kavalier & Clay. Ou Siegel & Shuster. Eles também acreditavam nisso.
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3 comentários:
Reginaldo, eis três livros que têm sido essenciais na minha pesquisa e revisitados mais que o bom senso normalmente permitiria: (1) As Incríveis Aventuras de Kavalier e Clay, de Michael Chabon; (2) Os Homens do Amanhã, de Gerard Jones; e (3) Superdeuses, de Grant Morrison.
http://s13.postimg.org/h21q94eqv/20150603_161901.jpg
O mito pelo mito, as remitologizações, o mito moderno e o Superconceito Morrisoniano, então, são como arroz de festa na minha dissertação. O que é um barato, pois me sinto um felizardo por poder passar horas a fio em meio a teorias como essas, que orbitam o tempo inteiro o meu objeto de estudo. Mas devo dizer que não recomendo a ninguém passar das dez reprises de Talking With Gods! Acredite, há efeitos colaterais!
E interessante que Gerard Jones foi uma surpresa e tanto. Quer dizer, me recordava do nome "Gerard Jones" vinculado a roteiros de quadrinhos diversos nos anos 90 como o Amanhecer Esmeralda¹ (DC Especial #2, E. Abril), o título mensal do Lanterna Verde Pré-Parallax (em Novos Titãs, E. Abril), Liga da Justiça Europa (em LJI, E. Abril), Hulk 2099 (em H. Aranha/X-Men 2099, E. Abril), Guy Gardner Renasce (especial homônimo, E. Abril) e Batman: Filho Afortunado (em DC Millennium, Brainstore), mas demorei um pouco a conectá-lo como o escritor de Homens do Amanhã. O "Gerard Jones" quadrinista tem lá seus momentos, é verdade², mas o "Gerard Jones" pesquisador e escritor de literatura não-ficcional, é genial. Aproveitando o ensejo, caso não o conheça, recomendo o Brincando de Matar Monstros, também do Jones:
http://s28.postimg.org/scrnta94d/20150603_162022.jpg
¹ Um material que nunca reli, mas guardo com muito carinho. Acredito que tenha sido a primeira história do Hal Jordan que li na vida e sempre a imaginei adaptada ipsis litteris para o cinema. Bom, certamente teria sido uma base muito superior ao que vimos naquele lixo esmeralda do Campbell.
² Filho Afortunado ↔ http://www52.zippyshare.com/v/38757917/file.html
Só três edições de Kavalier e Clay na Estante Virtual? Daí para a especulação imobiliária nos Mercenários Livres é um pulo! Quanto aos quadrinhos do(s) Escapista(s) (publicados pela Devir), coincidência ou não, comprei-os recentemente. Estou contando as horas para tirá-los do plástico. Recentemente, o Eudes³ do RA digitalizou esse primeirão:
http://www.rapaduradoeudes.blogspot.com.br/2015/04/as-incriveis-aventuras-do-escapista.html
³ Cada dia mais insano! Ele quebra uma lombada quadrada no scanner sem nem mesmo piscar. Isso merecia um estudo clínico.
Por fim, gostaria de registrar aqui o quanto estou feliz e honrado por tê-lo resgatado do limbo da Blogosfera. E mais ainda por ter aceitado o meu chamado para vestir a camisa dos Escapistas.
Confesso que sinto-me renovado e esparançoso com esse novo projeto, pois, você, o Dogg e o Marlo, mais que irmãos de armas, são verdadeiras referências para mim nessa arte do pitaco.
Como dizia ao Dogg, "4" é o número da sorte.
Abração.
Nada Escapa aos Escapistas!
Grato pela recepção, amigo. Vou procurar o Brincando de Matar Monstros, o Jones "escritor" manda muito bem mesmo.
Chego à conclusão crucial e inevitável: onde há Brian Bolland na capa, há fogo. E vamos catando as referências e transferindo tudo pra numa pasta dedicada...
Eudes seria capaz de tomar café com bolachinhas enquanto retalha "Brought to Light", um dos Graal do Moore (http://www.mbbforum.com/mbb/showthread.php?1992-Moore-T-O-NOVA-EDI%C7%C3O-DE-quot-DO-INFERNO-quot-!&p=3081891&viewfull=1#post3081891). De arrepiar até o dr. Lecter.
Texto sensacional, Reginaldo! Idem para a réplica, Luiz!
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