quarta-feira, 24 de junho de 2015

Será que é isso que eu necessito?


Não é novidade que os leitores de HQs mais velhos têm passado poucas e boas com esse mercado nos últimos anos. Não é preciso ser PhD em Economia: reformulações de produtos clássicos visando atender uma nova geração de consumidores são a ordem do dia desde que o mundo é mundo. Em tese, parece uma prática saudável, tanto comercial quanto criativamente. Só que quanto mais radicais e frequentes são as reformulações, mais dão vazão a expressões melancólicas como "não é mais pra mim", "só compro relançamentos de clássicos", etc.

Não sei se os quadrinhos antigos eram realmente melhores (eram sim) ou se sou eu que estou velho demais (estamos, vide o sucesso da série Coleção Histórica Marvel). A saída, de um modo geral, tem sido buscar refúgio em searas indie e européias, antes relegadas a breves escalas turísticas. Contudo, uma vida à base de Marvel e DC não se deixa diminuir assim tão fácil.

Virar as costas para o novo é bem mais cômodo. Mas por conta da nossa paixão pela arte #9, ficar indiferente é quase sempre uma meta, não uma realização.

Pessoalmente, tento ser receptivo e, por assim dizer, dialogar com essas novas ideias. Mas quando vejo uma premissa alardeando que o Vigia Uatu esconde alguns esqueletos debaixo da túnica, penso que o diálogo nunca foi uma opção.


Ou quando o Peter Parker esteve preso no corpo moribundo do Dr. Octopus.


Ou quando o Lobo virou hipster.


Ou quando...


Não me orgulho em dizer "não li e não gostei", nem mesmo nesses casos. Mas até onde me consta, não perdi muita coisa. O problema é ideológico: a falta de conhecimento é o combustível da intolerância. E intolerância é mato.

Um exemplo é a minha aversão aos Novos 52: fiquei surpreso ao saber das boas fases do Batman e do Monstro do Pântano, aqui mesmo, por dois Escapistas. Ambas já foram pra lista de leitura, aumentando ainda mais a pilha.

Claro que ninguém é obrigado a gostar de uma HQ só por que foi o Grant Morrison quem escreveu ou por que "é a nova coqueluche entre a garotada" (alguém lembra dessa expressão?). Um ponto, porém, me parece crucial: ser imparcial com abordagens radicais daquilo que você tanto prezou por anos a fio. Mesmo que seja tudo "all-new, all-different".

Ps de ocasião: dia desses, em uma banca, ganhando um olhar torto do jornaleiro/bicheiro enquanto pagava por um gibi. Levei meu 1º "unf" em muitos anos! Nem sabia que ainda fabricavam desses.

5 comentários:

Alê disse...

Há alguns dias me peguei pensando o mesmo, acerca de estar sempre venerando "o que era bom" e totalmente alheio ao atual, às vezes sem nenhuma razão lógica pra isso. Tenho tentado me policiar (tbm comecei a acompanhar o batman e não tenho me arrependido) mas não é tão fácil (palavras de quem acabara de reler o segundo número de Planetary logo antes de ler o post...).

blogzine disse...

Estamos velhos [fato] e as editoras estão mais estratégicas, vendendo números e abrangência ao invés de boas histórias.

Por falar em boas histórias, gostei da mini central de Pecado Original. É uma ideia estapafúrdia e exagerada, mas rende uma boa história.

Tenho tentado controlar o Mr.Burns interior e dou uma segunda chance para alguns títulos. Foi assim que eu li a ótima fase do Monstro do Pântano do Charles Soule.

Mas não vale ficar preso ao personagem / título ou Editora, tem muita coisa boa para ler por aí. Se não funciona, dropo sem dó.

Alê disse...

A propósito, o post sobre o Monstro do Pântano me deixou curioso em relação a esse personagem que sempre ignorei. Mas dificilmente consigo me ver começando por suas atuais histórias. Antes preciso vasculhar o baú...

doggma disse...

"palavras de quem acabara de reler o segundo número de Planetary"... Alê, se eu fizer uma coisa dessas provavelmente não engoliria mais nada do mainstream atual! É sair de um nível alto demais pra navegar nessas novas ondas da Marvel e DC. Prefiro começar devagar, na marolinha, rs.

Reginaldo, a estratégia dropante costuma ser bem eficiente. O problema é injustiçar obras com build up mais longo e que crescem com o passar das edições. Como os New Avengers do Jonathan Hickman, que está sendo muito elogiada por aí e eu não dava nada no começo. Agora vou eu empilhar trocentas edições digitais no modo de leitura dinâmica!

Vou dar uma olhada nas edições lead de "Pecado". Valeu a dica!

Luwig Sá disse...

"[...] uma vida à base de Marvel e DC não se deixa diminuir assim tão fácil.".

Acho que esse é o mantra nerd equivalente a "todos os caminhos levam a Roma". Quer dizer, por mais que se tente passar ao largo das duas grandes, o instinto fala mais alto, prega peças e quando menos esperas, eis que uma HQ N52 se materializa debaixo do seu braço. O tal "mistério da fé".

"A saída, de um modo geral, tem sido buscar refúgio em searas indie e européias [...]"

A pegadinha é que dá para sobreviver muito bem - "obrigado!" - com uma dieta dessas. E quem diria, a Image - porra, a Image! - está atualmente com o melhor cardápio da praça! Sério, a Image está lançando muito, mas muito quadrinho autoral de qualidade a exemplo de Lazarus, Saga, Wytches, Chew, Fatale, Velvet, The Fade Out, The Wicked + The Divine, Jupiter's Legacy, Sex Criminals, Zero, East of West, Manhattan Projects, Outcast, Trees... Ufa! Cansei!

"Ou quando o Peter Parker esteve preso no corpo moribundo do Dr. Octopus."

Viu o Spin-off de Secret Wars, "Renew your Vows"? Dá só uma pescada...

http://s11.postimg.org/isak5a7hf/image.jpg

...dá o que pensar, hã?

"Ou quando o Lobo virou hipster."

Nuff "fucking" said.

Ou quando...

Andei bisbilhotando essa Superman N52 #41 do Gene Luen Yang. Parece que esse Clark Made in China vai surpreender, e se seguir o exemplo "cara limpa" de Matt Murdock, a premissa dá pano pra manga. Agora o Romitinha... dá vontade de romitar! Infame, eu sei, eu sei...