quarta-feira, 3 de junho de 2015

Tirando do Plástico #3

A maior parte desse material já nem estava mais no plástico ou nem mesmo veio em um. Com um lote de encomendas fazendo aniversário em algum lugar da Comix (ah, meu Capitão Britânia), quem sofreu foi a ordem de leitura.

Felizmente, tenho me deparado com agradáveis surpresas nessa jornada de parcial desMarvelização e desDCeização.


Pixel Media segue com a inacreditável iniciativa de republicar as tiras clássicas do Fantasma do mestre Lee Falk e do sensacional desenhista Ray Moore. Enquanto meu exemplar da edição #3 vem da Comix de caravela com mapa de navegação do século XV, as duas primeiras edições, encomendadas semanas depois no ML por um preço quase justo (Bonelli HQ), já aportaram e foram devidamente degustadas.

As edições são caprichadas, com capa cartonada, papel couché e prefácios muito bons. O material, dos anos 30 e 40, é fascinante pelo valor histórico. Não só por registrar uma época em que o sexismo e a xenofobia batiam ponto nos comics, mas também por definir as bases essenciais para o arquétipo do nosso tão adorado vigilantismo mascarado quadrinhístico.

Além de serem aventuras pop/camp divertidíssimas, claro.


Outra pilhagem das boas que a Pixel fez nos arquivos da King Features Syndicate (também a licenciadora do Espírito que Anda). Desta vez foi a cria máxima do fanfarrão Dik BrowneO Livro de Ouro de Hagar, o Horrível é de um humor tão surreal e nonsense que parece ter sido escrito pelo pessoal do Monty Python de porre em alguma taverna. Ri alto com esse encadernado.

A compilação Franklin Richards - Filho de um Gênio foi bola dentro da Panini. Hesitei um pouco antes de solicitar, mas uma breve conferida no material por vias, digamos, alternativas, acabou com qualquer dúvida. O trampo da dupla Marc Sumerak e Chris Eliopoulos é cativante e praticamente reinventa esse gurizinho que nunca envelhece. A maior referência é, claro, Calvin & Hobbes, mas Franklin & H.E.R.B.I.E. têm vida própria e, melhor ainda, um laboratório do impossível à disposição.

Ah, e o acabamento é lindão.


Há eras afastado dos quadrinhos Disney, uma convergência de fatores (e sons e visões...) andou me arrastando de volta com tentáculos lovecraftianos. Meu fraco pelos Patos foi a minha perdição. Primeiro foi a edição de nº 2.442 (!!) da revista Pato Donald, com a chamada "o destino da mãe de Huguinho, Zezinho e Luisinho!" - algo que eu queria saber desde que tinha 4 anos de idade! Aí é covardia. O nome da história não poderia ser mais Manoel Carlos: "Laços de Família". E sim, é emocionante... De bônus, reservaram um belo artigo sobre os criadores.

Já Pato Donald Especial, uma antologia de obras de Carl Barks lançado pela Editora Abril em 1975, era algo que jazia em minhas lembranças infantis mais longevas. Redescobri por um feliz acaso, já que uma das histórias consta no luxuoso tomo Os 80 Anos do Pato Donald, lançado há pouco pela Abril. Daí pra promover uma caça ao Pato no Mercado Livre foi um pulo. E o acaso mais uma vez colaborou (2 in a row!), com uma edição em um incrível bom estado de conservação por um valor sensato.

O livro tem proporções generosas (21 x 27) e é precursor do formato encadernado no Brasil - salvo engano, houve apenas outro TP Disney anterior. Na minha coleção por ordem autobiográfica, esse livro agora passeia pelos primeiros lugares tranquilo. Desde a introdução até as histórias per se, a experiência tem sido xamânica, totêmica...


Ainda não tirei nenhuma dessas duas do plástico, mas tenho expectativas altas para a continuidade do John Constantine de Garth Ennis e Steve Dillon (bravo, Panini!) e mais altas ainda para Os Livros do Destino - embora este aliado a uma notinha de ceticismo.

Acho o Victor o maior e mais complexo vilão da Marvel, com um potencial inúmeras vezes desperdiçado pela editora, e tenho o maior respeito pelo Ed Brubaker (e quem não tem?). Mas não é sempre que leio preciosidades como "Máscaras" ou "Triunfo & Tormento".

Quase nunca, aliás.


Antes de tudo, é admirável como a Mythos Editora levou a justiça ao Juiz Dredd no Brasil. Com um título regular que já está na 22ª edição, uma seleção matadora de histórias e TPs com qualidade deluxe, a editora tem consolidado a invasão britânica da 2000AD por estas bandas. E os leitores também têm sua parte no sucesso, já que isso é resultado da fidelização desse público.

Juiz Dredd: Ano Um é o filme que nunca foi feito do "herói". Poderia ser o prequel do ótimo longa que o Alex Garland produziu em 2012. Clima no future opressivo e ultraviolento muito bem construído pelo roteiro de Matt Smith e pelos desenhos de Simon Coleby, cujo estilo é um meio-termo entre Jae Lee e o carinha de ZDM. Infelizmente, não é em capa dura - um crime com a fantástica arte de Greg Staples. Entendo que o preço já estava inflacionado pelo bacanudo chaveiro que vem de brinde (e é bem bacanudo mesmo), mas já que estamos no inferno, abraçemos o capeta, bebamos do seu vinho, de suas caixas de Sul Americana, etc. Pelo menos o TP traz a galeria de capas da mini original lançada pela IDW.

Em Juiz Dredd: Mandroide temos o bom Juiz às voltas com um cyber-Frank Castle MAX, cujo nome civil já dá uma pista do quilate do sujeito: Nate Slaughterhouse. Ainda não li e tenho medo de levar um Hi-Ex na cara assim que tirar o plástico.


Mustaine - Memórias do Heavy Metal (Ed. Benvirá) acaba sendo um título limitante, já que a autobio de Dave Mustaine pode interessar até quem não curte heavy metal - ou, especificamente, thrash metal, sua área de atuação. Vindo de família pobre, disfuncional e com pai alcóolatra, não seria surpresa se acabasse como o típico white trash reacionário e racista enfurnado num trailer. Mas acabou virando o cara à frente do Megadeth, a banda mais bem-sucedida do gênero... depois do Metallica. Ah, o Metallica...

Mustaine foi expulso do grupo ainda em seus primórdios de forma humilhante e isso é esmiuçado em detalhes estarrecedores no livro. O Metallica paira como uma nuvem escura durante toda a leitura, mostrando o tamanho do estrago que fizeram no Id do sujeito. Entre bandas, músicos, empresários, gravadoras, ex-mulheres, satanismo, evangélicos, traficantes e clínicas de rehab, Mustaine abraça e detona meio mundo, mas seu alvo preferencial é ele mesmo.

O tom é franco e confessional. A fama de sujeito difícil, arrogante, egocêntrico e patologicamente obcecado por sua ex-banda é endossado por ele inúmeras vezes ao longo do livro. Mas nunca de forma glamourosa ou autopiedosa e sim como um instantâneo de uma alma que precisa melhorar e muito. Igual à de qualquer outro.

De bônus, Mustaine ainda destrincha para os civis o funcionamento de várias engrenagens internas do showbiz. Os caras não prestam.

Devorei as 360 páginas em uma semana.

3 comentários:

Marlo de Sousa disse...

Belas compras, Dogg! Fiquei particularmente interessado na bio do Mustaine. Recentemente, devorei as de Lobão (pelo próprio) e Wilson Simonal (por Ricardo Alexandre), esta última recomendada com ênfase. Abraço!

Luwig Sá disse...

Rixas internas na música sempre rendem boas histórias. Essa entre o Mustaine e o Metallica, então, é das mais emblemáticas. Curiosamente, depois que assisti a Some Kind of Monster – há alguns anos, esquadrinhado pelo nobre escapista¹ -, tive a impressão que James, Lars e Kirk se viram na pele do próprio Dave quando o Jason, voluntariamente, decidiu abandonar a “Família Metallica”. Estava muito claro para mim que Newsted era, até então, o que restava do ideário original da banda, e a presença dele no contrabaixo era um lembrete de que eles não tinham caído tanto assim, que ainda poderiam voltar atrás.

¹ http://blackzombie.blogspot.com.br/2005/08/metllica.html

Essa biografia está na ordem do dia, mas antes preciso enfrentar a do Senhor Plant. E, quem diria, essa última foi traduzida pelo onipresente Senhor Assis:

http://geral.leya.com.br/pt/biografias-memorias/robert-plant-uma-vida/

Seu Tirando o Plástico me deixou sentimentos dúbios: invejoso e saudoso.

Quer dizer, alguns como os do Dredd me deixam não apenas com inveja, mas também fulo porque na época de seu lançamento julguei que a revista mensal não chegaria nem mesmo a terceira edição, descartando completamente qualquer hipótese de comprá-la. Pensando seriamente em garimpá-las na Estante Virtual. Já os Patos, puxa vida! Sempre que vejo esses especiais em capa dura do Carl Barks, fico prostrado com o pensamento: “um dia” – e ao fundo, tocando na minha cabeça a sexta faixa desse disquinho:

http://s29.postimg.org/ohhc0gvxz/contracapa.jpg

A propósito, termine o serviço e me mate logo dizendo que você tem cada um desses aqui:

http://ludy-quadrinhosdisney.blogspot.com.br/2010/03/manuais-disney.html

No dia em que você começar a ler o run de Jonathan Hickman no Quarteto e chegar até o desfecho de seus Vingadores, cominando-os com as novas Guerras Secretas, tu terás na memória mais algumas outras preciosidades do Vic. Eis uma palhinha:

http://www.4shared.com/rar/g8z-_KK7ba/Destino_E_eu_possuirei_a_Terra.html

Lembra onde foi publicado “Máscaras”? Coisinha fina, viu?!

doggma disse...

Valeu pela indicação, Marlo! Adoro o Simonal. Vou procurar esse pra semana. De antemão, lembra se fala alguma coisa da entregada dele pelo Jaguar (Pasquim)?

Luwig, sua leitura do status Metállico é precisamente o que acho. No livro o Mustaine também fala desse "cameo" catártico no Some Kind e revela que a coisa não foi bem o que pareceu. The treta never ends!

Lembrou bem da onipresença do omelete-boy. Acabou de chegar meu exemplar de "Zumbis", do Jamie Russell, e adivinha quem traduz? A propóstio, não esqueça de comentar suas impressões do livro do Plant, que muito me interessa.

Quanto aos manuais não, não tenho. Mas já tive o "Manual do Escoteiro Mirim" e o "Manual do Prof. Pardal"... Dessa você escapou, rs.

Sobre o Doc-Doom: muita boa essa palhinha. Sinceramente não esperava que o Victor deixasse o Namor sair andando no final. heh

"Máscaras" saiu em Marvel Apresenta #9: Abismo Infinito - http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/marvel-apresenta-n-9/ma01107/20297